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A mostrar mensagens de fevereiro, 2024

Marcas narrativas na literatura

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Uma rápida pesquisa comparativa por heróis literários, entre 1900 e 2019, na aplicação Ngram da Google, retorna valores muito interessantes para discutir o impacto de marcas narrativas na literatura, neste caso marcas de heróis e heroínas. Das muitas leituras que podemos fazer, talvez a mais impactante seja mesmo a verificação do modo como o universo literário da Grécia Antiga continua a seduzir a produção cultural no século XX e XXI. Versão Interativa   

Novichok em UK

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Impressionante. "The Salisbury Poisonings" (2020) é uma dramatização do ataque da Rússia a Inglaterra com um Agentes de Nervos ( Novichok ), em Março de 2018, dois meses antes do Mundial de 2018 na Rússia, para assassinar dois espiões. Impressionante porque não morreram apenas dois espiões, morreu uma cidadã britânica, ficaram debilitadas mais uma série de pessoas inglesas, outras perderam as suas casas que se tornaram inutilizáveis por ser impossível limpar o agente, e se não tivesse havido todo um controlo altamente eficaz da difusão do agente, com encerramento de zonas inteiras da cidade de Salisbury ao longo de mais de um ano poderiam ter morrido centenas ou milhares de pessoas. Os custos de reação ao uso de um simples frasco de perfume com o agente, além das mortes e vidas desfeitas, terá custado vários milhões. Em 2019 a Organisation for the Prohibition of Chemical Weapons adicionou este agente à lista de armas proibidas. Tardiamente, porque foram precisas várias décad

Inovação: breve história dos exageros e fracassos

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" Invention and Innovation: A Brief History of Hype and Failure " (2023) é o mais recente trabalho de Vaclav Smil (1943, Professor Emérito da Faculdade de Ambiente da Universidade de Manitoba, Canada), depois do brilhante “ How the World Really Works: The Science Behind How We Got Here and Where We're Going " (2022). Neste novo livro, Smil trabalha um conjunto de tecnologias falhadas — Gasolina com Chumbo, DDT, Fusão Nuclear, Aviação Supersónica, Hyperloop, etc. — que permitem depois suportar toda uma argumentação no último capítulo a propósito do insuflamento das conquistas da invenção humana das últimas décadas. Quero, no entanto, frisar que por vezes o discurso de Smil se torna um pouco negro, parecendo quase apresentar-se contra a própria inovação, algo que sabemos não ser sua intenção, mas que acaba ficando latente. Smil procura com esta obra remar contra a corrente do endeusamento da inovação atual, oferecendo um lastro histórico e fundamentado da invenção huma

o fim do fim de um país

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"Como se eu não existisse" (1999), de Slavenka Drakulić, dá conta da história de S. que é levada juntamente com centenas de outras mulheres para um campo de concentração na Bósnia, em 1992. A descrição do todo é intensa, desmontando em palavras sentires indescritíveis. Obriga-nos a pensar sobre como foi possível, no final do século XX, apenas 50 anos após o Holocausto, repetirmos quase tudo outra vez. Obriga-nos a tentar perceber como é que o fim do Comunismo na Jugoslávia, em 1989, levou à total carnificina. Um país retalhado pela força das diferenças religiosas capazes de sustentar a necessidade de genocídio. O enfoque do relato é na visão feminina da guerra, negra, horripilante, ainda assim, senti muitas vezes um sentimento estranho, pois não conseguia deixar de pensar que aquilo que estava a ler, passado em 1992, continua a existir ainda por todo o globo. Milhares de mulheres continuam a ser traficadas não apenas em zonas de guerra, mas também em zonas de pobreza, de mig

“A Voz das Mulheres”, livro e filme

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“A Voz das Mulheres” (2018) foi escrito por Miriam Toews (1964), escritora canadiana, descendente das comunidades ucranianas emigradas para Manitoba, Canada. Toews foi menonita até aos 18 anos , o que a torna particularmente habilitada para falar de um dos mais hediondos crimes ocorridos numa comunidade religiosa em pleno século XXI. Entre 2005 e 2009 , 151 mulheres , entre os 3 e os 65 anos , da colónia de menonitas de Manitoba na Bolívia, foram violadas, várias mais do que uma vez, por um grupo de 8 a 9 homens, que usaram um produto anestésico para vacas para deixar as mulheres inconscientes. Em 2022, Sarah Polley (1979), realizadora canadiana, escreveu e realizou o filme homónimo pelo qual recebeu o Óscar de Melhor Argumento Adaptado. Se o livro é bom, o filme parece ser melhor, contudo, após breve reflexão percebi que ambos isolados são bons, elevando-se apenas a excecionais quando experienciados em conjunto. Ou seja, o livro e o filme funcionam como duas peças estéticas complement