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Excesso como Estilo

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Comecei Ofuscante: A Asa Esquerda  (1996) com assombro. O primeiro capítulo foi uma revelação rara: senti que estava diante de uma escrita capaz de perfurar a realidade até ao núcleo. Bucareste, visto da janela de um quarto de adolescente, tornou-se corpo vivo; a cidade respirava como organismo, as luzes noturnas vibravam como vísceras, e a memória aparecia não como nostalgia, mas como ferida aberta. Foi, talvez, um dos inícios mais poderosos que já li, proustiano no mergulho, mas mais visceral, mais urbano, mais sujo e luminoso.

"The Peasants", de 1909 para 2023

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"The Peasants" (2023) é o segundo filme feito com a mesma técnica — rotoscoping e ilustração a óleo — usada no inesquecível " Loving Vincent " (2017), sobre a vida de Van Gogh, ambos produzidos pela polaca  BreakThru Films . Em "The Peasants" temos a adaptação de um clássico homónimo do Nobel  Władysław Reymont . O filme começa com composições belíssimas suportadas por cores e texturas que gritam pedindo para pararmos a imagem e admirarmos cada momento, saborear, sentir. A história demora a contextualizar, o romance original é de 1909, mas depois de entrar no conflito não nos larga mais. A mistura entre a enorme beleza visual e a intensa tragédia acaba por produzir um impacto em nós no final do todo, do qual não conseguimos sair passadas várias horas. É um hino à condição da mulher, um recordar do mundo de onde viemos.

“A Voz das Mulheres”, livro e filme

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“A Voz das Mulheres” (2018) foi escrito por Miriam Toews (1964), escritora canadiana, descendente das comunidades ucranianas emigradas para Manitoba, Canada. Toews foi menonita até aos 18 anos , o que a torna particularmente habilitada para falar de um dos mais hediondos crimes ocorridos numa comunidade religiosa em pleno século XXI. Entre 2005 e 2009 , 151 mulheres , entre os 3 e os 65 anos , da colónia de menonitas de Manitoba na Bolívia, foram violadas, várias mais do que uma vez, por um grupo de 8 a 9 homens, que usaram um produto anestésico para vacas para deixar as mulheres inconscientes. Em 2022, Sarah Polley (1979), realizadora canadiana, escreveu e realizou o filme homónimo pelo qual recebeu o Óscar de Melhor Argumento Adaptado. Se o livro é bom, o filme parece ser melhor, contudo, após breve reflexão percebi que ambos isolados são bons, elevando-se apenas a excecionais quando experienciados em conjunto. Ou seja, o livro e o filme funcionam como duas peças estéticas complement...