o fim do fim de um país

"Como se eu não existisse" (1999), de Slavenka Drakulić, dá conta da história de S. que é levada juntamente com centenas de outras mulheres para um campo de concentração na Bósnia, em 1992. A descrição do todo é intensa, desmontando em palavras sentires indescritíveis. Obriga-nos a pensar sobre como foi possível, no final do século XX, apenas 50 anos após o Holocausto, repetirmos quase tudo outra vez. Obriga-nos a tentar perceber como é que o fim do Comunismo na Jugoslávia, em 1989, levou à total carnificina. Um país retalhado pela força das diferenças religiosas capazes de sustentar a necessidade de genocídio.


O enfoque do relato é na visão feminina da guerra, negra, horripilante, ainda assim, senti muitas vezes um sentimento estranho, pois não conseguia deixar de pensar que aquilo que estava a ler, passado em 1992, continua a existir ainda por todo o globo. Milhares de mulheres continuam a ser traficadas não apenas em zonas de guerra, mas também em zonas de pobreza, de migração, acabando por passar por experiências tão ou mais duras do que as que são aqui relatadas. 


No entanto, o livro não deve ser olhado pela dureza dos incidentes, mas antes pelo modo como nos compele a ir atrás, a querer saber mais sobre aqueles países e sobre o que passaram aquelas populações.

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