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Ego Tunnel de Thomas Metzinger

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Em "The Ego Tunnel" (2010) Thomas Metzinger propõe uma tese radical sobre a natureza da consciência e do “eu”. O autor sugere que aquilo a que chamamos “consciência” é, na verdade, uma espécie de interface de realidade gerada pelo cérebro – um “túnel” onde apenas certas informações são filtradas e apresentadas à perceção consciente. Daqui decorre a conclusão de que o “self” – a noção de um “eu” sólido e coeso – constitui um produto do funcionamento cerebral, não tendo existência independente para além dessa representação interna.  Para Metzinger, a consciência não espelha fielmente o mundo externo; em vez disso, oferece-nos uma versão simplificada e funcional da realidade. Esse “túnel” assegura-nos uma experiência estável e contínua de “quem somos” e de “onde estamos”, mas ocultando a verdadeira complexidade do mundo. Para isto contribui muito do trabalho de Benjamin Libet que questiona existência de livre-arbítrio. Não concordando com um conjunto de pontos, decidi alinhar os...

Marie Curie, academia e família

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Se algum dia vos passar pela cabeça a ideia de fazer um doutoramento, leiam este livro, "Madame Curie" (1937), escrito pela filha, Éve Curie. A principal característica que alguém, desejoso de abraçar o caminho da ciência, deve possuir, é aqui apresentada no seu expoente máximo: a humildade . Sem humildade, não é possível fazer ciência. Pode-se fazer bons negócios, mas ciência, efetiva, muito dificilmente. Marie Curie aprendeu desde muito tenra idade a importância dessa humildade, mas também a importância da resiliência, do trabalho continuado e persistente para chegar ao conhecimento. A sua história de vida é um hino à Ciência. O sobrenome Curie veio do marido, Pierre Curie, com quem casou em 1895, responsável por propiciar as condições, em França, para que Marie Curie realizasse o seu doutoramento no qual viria a descobrir dois novos elementos, o Polónio e o Rádio. Mas Marie nasceu Maria Salomea Skłodowska na Polónia, em 1867. Se a sua história de 1895 até 1934 impressiona ...

Lembrança do Passado da Terra

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“A Morte Eterna” é um livro verdadeiramente inebriante. Sendo a terceira parte de uma saga, vem munido de um extenso contexto que lhe permite trabalhar amplamente as reviravoltas de enredo que agarram a nossa atenção. Por outro lado, quantas terceiras-partes conhecemos que vão verdadeiramente além da obra original? É-me muito difícil dar conta da intensidade da experiência desta leitura, porque Liu Cixin junta o melhor da arte de contar histórias com o melhor da ciência. Cixin consegue imaginar, especular, a representação de uma realidade futura de tal forma factual que quase parece estar a escrever uma ficção histórica, talvez não por acaso o título da trilogia foi estabelecido como " Lembrança do Passado da Terra ". A quantidade de conceitos elaborados e os enredos construídos em redor desses é estonteante, dando conta de um virtuosismo singular, não na forma escrita, nem na construção dos personagens, mas na capacidade de criar mundos e fazer-nos passear dentro deles atrav...

Agência não determinada

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Este ano foi fértil na luta entre os defensores do determinismo e os do livre-arbítrio, com o livro " Determined " (2023) de Sapolsky a defender o primeiro, e o livro de Kevin Mitchell, " Free Agents" (2023), o segundo. Ambos são neurocientistas, Sapolsky na Universidade de Stanford, Mitchell no Trinity College de Dublin. Sobre o primeiro livro, já aqui dei conta , sobre o segundo, aconselho a leiturada da  síntese de Bailey para a Reason . A meio de "Free Agents", cansei-me totalmente desta discussão. Já me tinha saturado com Sapolsky, mas agora decidi mesmo não voltar tão depressa a este tema. Cada lado dedica-se apenas e só a listar exaustivamente pontos que consideram essenciais e que demonstram como a razão está do seu lado. Contudo, a culpa não é deles, é do debate, do quão desprovido de sentido está. " Determined " de Sapolsky  e " Free Agents"  de Kevin Mitchell, ambos publicados em outubro 2023. Imagem de Bill Sullivan. É des...

Homo Faber, o determinado

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"Homo Faber" é um livro bastante discutido no seio da academia, nomeadamente na relação entre literatura e filosofia, pela forma como usa a narrativa para discutir assuntos complexos como a racionalidade, o determinismo e o acaso no modo como suportam ou contrapõem a ideia do “humano que faz”. O livro foi publicado em 1957 pelo suíço Max Frisch e, segundo o próprio, teve como ponto de partida a neutralidade da Suíça na Segunda Guerra Mundial. A narrativa criada por Frisch não é completamente nova, antes assenta numa emulação quase direta da seminal obra de Sofócles, “Édipo Rei” de 427 a.C . Contudo o cenário construído por Frisch é inescapável à época em que foi escrita, denotando proximidades na descrição social — conservadorismo, conformismo, e ambição tecnológica —, com obras como “ Fahrenheit 451 ” (1953) de Ray Bradbury ou “Flowers for Algernon” (1966) .  A escrita de "Homo Faber" segue o estilo de relatórios escritos por parte de um engenheiro que viaja pelo g...