Muito barulho por nada
“Co-Intelligence: Living and Working with AI” (2024) de Ethan Mollick transformou-se num sucesso de vendas e citações em muito pouco tempo, pelo que apesar do título não me oferecer nada de novo, acabei por ceder a ler para perceber de que era feito o hype. Não passou disso mesmo, ‘muito barulho por nada’. Mollick é um professor de gestão e inovação, grande entusiasta desta última geração de IA, pelo que dedica todo o livro a discutir as experiências que tem feito, a maior parte delas a nível meramente pessoal, ou seja, sem evidências. Por outro lado, quando cita estudos, fá-lo de forma ligeira, extraindo o que lhe interessa e ignorando o que não interessa, não mencionando o escopo e amostras reduzidas dos mesmos. Alguns casos são mesmo gritantes, e um deles abre logo o livro pelo que o transcrevo abaixo [1]. Ou seja, é um livro para amantes desta nova IA, para todos aqueles que acreditam que vão ter um assistente para fazer todo trabalho chato por si, mais, para todos os que pensam que graças à IA vão ser os criativos do futuro [2]. Muito pobre.
[1] “studies of the effects of AI have found it can often lead to a 20 to 80 percent improvement in productivity across a wide variety of job types, from coding to marketing. By contrast, when steam power, that most fundamental of General Purpose Technologies, the one that created the Industrial Revolution, was put into a factory, it improved productivity by 18 to 22 percent. And despite decades of looking, economists have had difficulty showing a real long-term productivity impact of computers and the internet over the past twenty years”
Isto parece ter sido escrito para um post de Facebook, e não para um livro assinado por um académico e editado por uma editora que supostamente devia ter revisto o livro. Comparar o impacto da IA na produtividade de uma sociedade tecnologicamente desenvolvida, com o impacto de uma energia que teve de criar toda uma nova sociedade do zero, não é sério. Mas a falta de seriedade atinge o pódio quando se tenta dizer que o impacto desta IA já ultrapassou o impacto do computador pessoal e da internet.
Esta ligeireza, esta vontade de enaltecer e deslumbrar agrava-se quando o autor resolve falar do que desconhece, os processos criativos, como fica patente neste segundo excerto.
[2 ]"Not everyone is a Nick Cave or Hayao Miyazaki (obviously) or even anywhere close to that level of talent. But many people want to express themselves creatively, and remarkably few feel they can. One survey asked a representative sample of people how many felt they were living up to their creative potential. Only 31 percent said they were. There is a lot of frustrated creative energy in the world.
(...)
I have enough training to know I am pretty mediocre.
(...)
Until July 28, 2022. That is when I first got access to the AI art program Midjourney. I was almost instantly hooked by its power and spent that day creating artistic bar charts (look, I am an academic, charts are in our blood). I started posting them on Twitter. By the next day, over 20,000 people had liked the tweet thread. Academics told me that they printed out copies and hung them on their walls. I had made something other people enjoyed.
Was it art? Probably not — and that’s a question for the philosophers anyway. But I know it is creative. I feel the thrill of creating something, that sense of flow when I am trying to create an image that only comes from intense engagement and focus. I often need to make and modify dozens of images to get one I like. Many experiments work out badly, yet there is still joy in developing prompts, feeding images back to the AI, and seeing what happens. I know there is skill involved. -- I have gotten pretty good at it, and I know this because people who use these tools for the first time will not be able to achieve the same results."
Alguém dizer que se tornou um especialista em criação visual usando um agente de IA, é como um condutor de um carro auto-conduzido dizer que se tornou num especialista em condução!
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