Entre o Corpo e o Absurdo — Warfare (2025)

Em 2015, observei na análise a Ex Machina que a estética de Garland assenta não apenas no que nos dá a ver, mas sobretudo na forma como nos obriga a ver¹. Voltei a essa ideia em 2019, ao desmontar a «história de aniquilação» de Annihilation ², e em 2020, quando Devs expôs o determinismo algorítmico que sufoca o futuro³. Ao longo deste percurso, o realizador interroga os limites entre ontologia e violência. Com Warfare , revisita esse nó, mas abandona o laboratório e o aparato metafísico para filmar um corpo que treme no centro de uma casa em ruínas. Saí do filme a sentir‑me como quem se liberta de uma câmara hiperbárica: o som ainda a vibrar, a pele roçando os micro‑espasmos, a mente turva. Garland não quer que pensemos; quer que sintamos – que seja o corpo a lidar com o absurdo antes de o intelecto o tentar traduzir. A narrativa é depurada ao extremo. Não há grandes arcos morais nem discursos tácticos; apenas o acúmulo de estímulos que nos empurra cada vez mais fundo para dentro do ...