Les Indésirables, a tragédia da interdependência
O mais recente filme de Ladj Ly, Les Indésirables (2023), quer denunciar a indiferença do Estado francês, mas o que acaba por mostrar é mais complicado do que parece. A história passa-se num prédio em ruína, habitado por famílias pobres e imigrantes. Ly culpa a Câmara e o novo presidente, mas o que se vê no ecrã vai além da má gestão pública: é a decomposição de um espaço que perdeu o sentido de comunidade. As paredes partidas, os corredores vandalizados, o lixo acumulado, nada disso é apenas culpa do poder. É também o reflexo de um colapso simbólico: pessoas vindas de países diferentes, sem laços nem memória comum, que foram ali encaixadas e deixadas a sobreviver lado a lado. E quando não há sentimento de pertença, o “comum” deixa de ser de todos, passa a ser de ninguém. Ly mostra a revolta justa dos moradores, mas não compreende o outro lado: o da França pobre e de classe média, que também luta, também paga, e sente que o Estado protege uns e esquece outros. É aqui que nasce a ...