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Atos Humanos (2014)

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Há livros que não se leem apenas — atravessam-nos. Atos Humanos, de Han Kang, é um desses livros. Terminei a leitura durante a semana que passou, mas ainda não me desliguei dele. Não é um romance que se devore; é um texto que se suporta, por vezes com dificuldade, como quem segura na mão um fragmento de memórias indigestas mas necessárias. Desconhecia os acontecimentos de Gwangju em 1980. Foi um choque. Sei o quão dificil tem sido a história da Coreia do Sul, desde a relação com o Japão, ao problema da divisão nunca sanada entre norte e sul, mas não tinha ideia das ditaduras que governaram o país nos anos mais recentes, e menos ainda desta violentíssimo golpe de Estado e de todo o horror que se lhe seguiu. A brutalidade da repressão, a frieza institucional, e sobretudo o apagamento deliberado da história. Ao dar corpo a essas vozes silenciadas, Han Kang transforma o romance numa forma de acusação e num veículo de memória coletiva. Se em A Vegetariana já se sentia uma escrita afiad...

"The Peasants", de 1909 para 2023

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"The Peasants" (2023) é o segundo filme feito com a mesma técnica — rotoscoping e ilustração a óleo — usada no inesquecível " Loving Vincent " (2017), sobre a vida de Van Gogh, ambos produzidos pela polaca  BreakThru Films . Em "The Peasants" temos a adaptação de um clássico homónimo do Nobel  Władysław Reymont . O filme começa com composições belíssimas suportadas por cores e texturas que gritam pedindo para pararmos a imagem e admirarmos cada momento, saborear, sentir. A história demora a contextualizar, o romance original é de 1909, mas depois de entrar no conflito não nos larga mais. A mistura entre a enorme beleza visual e a intensa tragédia acaba por produzir um impacto em nós no final do todo, do qual não conseguimos sair passadas várias horas. É um hino à condição da mulher, um recordar do mundo de onde viemos.