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A Parábola de Octavia E. Butler

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Octavia E. Butler foi uma das vozes mais influentes da ficção especulativa americana do final do século XX, tendo antecipado em Parable of the Sower  (1993) vários temas que viriam a marcar a literatura e a cultura popular do início do século XXI. Este romance insere-se na tradição das atuas distopias, narrativas apocalípticas, como The Road  (2006) de Cormac McCarthy, The Walking Dead (2003) de Robert Kirkman, e mais recentemente, The Last of Us (2013) . Embora não inclua elementos sobrenaturais como zombies, a figura dos pyros , viciados numa droga que os leva a incendiar tudo o que encontram, cumpre uma função semelhante, representando o colapso social e a ameaça permanente à sobrevivência. O livro de Butler antecipa assim uma tendência narrativa do século XXI que se foca no declínio da sociedade e nas lutas individuais pela sobrevivência em mundos em ruínas. Um dos temas centrais de Parable of the Sower é a tensão entre o desejo humano de estabilidade e a inevitabilid...

Silo, 2ª temporada

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A segunda temporada de "Silo" chegou com muitas expectativas, após uma primeira temporada muito envolvente e distinta. Contudo, é inevitável afirmar que não foi alcançada a mesma envolvência narrativa. O fluxo ao longo da temporada tem poucos altos, e muitos baixos, houve uma clara perda de ritmo. Enquanto a primeira temporada se destacava pelo continuado desvelamento de factos novos sobre o Silo, nesta segunda temos demasiados pequenos incidentes, com pouca relevância, a encher o tempo e a oferecer muito pouco. O desenrolar do enredo teria resultado melhor com uma edição que cortasse pelo menos 3 episódios do meio. Toda essa extensão desnecessária compromete o impacto emocional e a tensão dramática que a primeira série tinha criado tão bem. Ainda assim, a série encontra redenção em dois momentos-chave: o início e o final. A saída e a reentrada, no Silo, da protagonista são os pontos de maior força narrativa, deixando a impressão de que tudo o mais – os pequenos conflitos e d...

Eu Que Nunca Conheci Homens (1995)

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“I Who Have Never Known Men” (1995) de Jacqueline Harpman parece ser apenas mais uma distopia feminina, na senda de “ A História de uma Serva (1985) ” de Margaret Atwood, contudo, em termos do questionamento que nos faz, está em linha com todas as outras grandes distopias — “Nós” (1921) de Evguén Zamiátin, "Metropolis" (1927) Fritz Lang, "Admirável Mundo Novo" (1932) Aldous Huxley, "Mil Novecentos e Oitenta e Quatro" (1948) George Orwell, "Fahrenheit 451" (1953) Ray Bradbury. Diria mesmo que de todas estas é a mais ampla e profunda, para o que terá contribuído o facto de Jacqueline Harpman ser psicanalista. O livro foi escrito em 1995 e lançado sem grande impacto. Harpman era belga, com uma carreira limitada ao mercado francófono. Contudo, em 2019 quando a Penguin (através da Vintage) resolveu traduzir o livro para inglês e lançá-lo por meio de uma forte campanha online viria a atingir a viralidade no TikTok. A campanha foi acompanhada por açõ...