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Do Lado Dela (1949) de Alba de Céspedes

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Entrei em " Dalla Parte di Lei " (1949) com muita sede. Gosto muito de Alba de Céspedes e considero O Caderno Proibido  (1952) um dos meus livros preferidos de sempre. Por isso quis dar a este romance a mesma atenção. E dei. Mas acabei frustrado — não por falta de talento da autora, mas por um artifício narrativo que me parece, ao mesmo tempo, inteligente e problemático. Audiolivro narrado por Carlotta Brentan, a partir da tradução de  Jill Foulston Primeiro, uma correção importante: eu cheguei a pensar que este seria um romance de estreia, ainda imaturo. Afinal não é. Foi publicado apenas três anos antes de O Caderno Proibido . Portanto, a complexidade já estava lá. O que muda aqui não é falta de capacidade. É uma escolha. O livro chama-se “ Do Lado Dela ”, em italiano; em português, ficou " Confissão ” e, em inglês, " O Lado Dela da História " . Nenhum destes títulos é inocente. Eles preparam o leitor para aceitar, desde o início, que isto não é “a verdade”,...

Um dos Nossos (2023)

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Tinha muitas expectativas quando peguei neste livro de Willa Cather. Adorei os seus “ The Professor's House ” e “ Minha Antónia ”. O registo aproxima-se, contudo estende-se além do sustentável pela narrativa, nomeadamente por ser quebrada em dois grandes momentos, a vida no interior dos EUA, e a partida para a Primeira Grande Guerra, por parte do personagem principal. Se na primeira parte a personagem parece querer evidencar algo particular de si, o modo como se sente desligado de tudo, a fazer recordar Stoner, contudo nada acabando por efetivamente desvelar-se, na segunda parte entramos num outro território, tão distinto a ponto de o próprio personagem servir apenas de veículo à narrativa, refugiando-se numa concha daquilo que foi apresentado na primeira parte. Compreendo o Pulitzer dado em 1923, cinco anos apenas após o fim da terrível guerra. Mas é um livro incapaz de sobreviver ao tempo, a falta do contexto experiencial duro dessa era afasta-nos, torna distante a leitura, o int...

Eu Que Nunca Conheci Homens (1995)

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“I Who Have Never Known Men” (1995) de Jacqueline Harpman parece ser apenas mais uma distopia feminina, na senda de “ A História de uma Serva (1985) ” de Margaret Atwood, contudo, em termos do questionamento que nos faz, está em linha com todas as outras grandes distopias — “Nós” (1921) de Evguén Zamiátin, "Metropolis" (1927) Fritz Lang, "Admirável Mundo Novo" (1932) Aldous Huxley, "Mil Novecentos e Oitenta e Quatro" (1948) George Orwell, "Fahrenheit 451" (1953) Ray Bradbury. Diria mesmo que de todas estas é a mais ampla e profunda, para o que terá contribuído o facto de Jacqueline Harpman ser psicanalista. O livro foi escrito em 1995 e lançado sem grande impacto. Harpman era belga, com uma carreira limitada ao mercado francófono. Contudo, em 2019 quando a Penguin (através da Vintage) resolveu traduzir o livro para inglês e lançá-lo por meio de uma forte campanha online viria a atingir a viralidade no TikTok. A campanha foi acompanhada por açõ...