Eulogy (Black Mirror, E5.S7)

Há obras que não nos comovem por aquilo que revelam, mas pelo modo como o fazem. Eulogy , episódio cinco da sétima temporada de Black Mirror, não me tocou por conter uma reviravolta comovente, nem por recuperar a imagem de um amor perdido. Tocou-me porque soube conduzir, com precisão, o gesto de revisitar uma memória — ponto por ponto —, suportado por uma IA realisticamente desenhada. A força do episódio não está tanto na dor do que se perdeu, mas na coreografia do recordar: o modo como uma imagem puxa uma pergunta, como uma música arrasta uma sensação esquecida, como o olhar sobre um objeto antigo pode fazer tremer um mundo interior inteiro. O episódio não obriga à catarse, mas convida a lembrar aquilo que esquecemos por defesa, aquilo que só pode ser revisto se houver alguém a caminhar connosco. Foi isso que me deixou em êxtase, a rara experiência de ver uma obra capaz de encenar a complexidade do recordar sem pressa, sem manipulação, sem atalho emocional. A representação do cu...