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Connemara (2022)

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Peguei no Connemara  (2022) de Nicolas Mathieu movido por uma nostalgia difícil de explicar. Talvez fosse a capa, que me fazia lembrar viagens, ou a vontade de revisitar o passado através das palavras de alguém que, como eu, parece ter percebido que a vida raramente corresponde aos sonhos que construímos. Logo nas primeiras páginas, senti que o livro me falava diretamente: o cansaço com o presente, a sensação de não ter chegado a lado nenhum, a ideia de que tudo aquilo que parecia tão importante na juventude acabou por se dissipar, transformando-se em recordações que resistem apenas pela força da memória. À medida que avançava na leitura, percebi que a única salvação que o autor nos dá — ou talvez o único consolo — é a possibilidade de regressar a esse lugar interior onde guardamos, entre fracassos e conquistas, as memórias que nos formaram. Um refúgio sentimental, onde, mesmo que tudo pareça desfeito, encontramos ainda algum conforto emocional. Foi isso que me agarrou ao livro, ma...

Os Anos de Annie Ernaux

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"Os Anos" (2008) é um registo romanceado de Annie Ernaux que nos leva pela mão da sua memória, de 1940 a 2006, a partir de fotografias que vai desfilando para se questionar sobre a afirmação de Chekhov, “ Sim. Seremos esquecidos. É assim a vida, nada a fazer. O que hoje nos parece importante, sério, cheio de consequências, pois bem, um dia vai cair no esquecimento, vai deixar de ter importância. ” (excerto de “Três Irmãs” (1901)). Os vetores do Mundo de Ernaux: França, Província, Família (pais), Paris, Casa, Família (maridos e filhos) Liberação Sexual, Pílula e Sida Hipermercados, Consumo e Evolução Tecnológica Economia e Imigração Televisão, Política, Europa, Revoluções, África, Guerras e Terrorismo Música, Publicidade, Cinema e Literatura Tudo isto é visto a partir dos olhos de quem vai envelhecendo, não apenas a descrição do que existia em cada época, mas do modo como ela interpreta, primeiro como jovem, depois adulta, passando a mãe que vê o mundo pelos olhos dos filhos, ...

Goncourt 2023, 2º lugar para Eric Reinhardt

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“Sarah, Susanne et l'écrivain” (2023) de Eric Reinhardt é o livro que terminou em ex aequo no Goncourt 2023, tendo ao fim de 14 rondas sido decidido pelo voto do presidente do júri por “Veiller pour Elle” de Jean-Baptiste Andrea . São dois livros muito distintos. “Veiller pour Elle” é um livro centrado na história que quer contar, enquanto “Sarah, Susanne et l'écrivain” se centra na forma do contar da sua história. Deste modo, não devem ser comparados, já que trabalham objetos distintos, pelo que seja natural esta divisão no júri que decorre da função que privilegiam na literatura.  Sarah confia a história da sua vida a um escritor para que ele a transforme num romance. No romance, dentro do romance que lemos, Sarah chama-se Susanne, e nós seguimos a conversa entre Sarah e o escritor, nomeadamente algumas discussões sobre as opções criativas do escritor para ilustrar os factos apresentados por Sarah. A história de fundo dá conta de uma mãe de família que descobre que o marido ...

Velar por Ela (2023)

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“Velar por Ela”, de Jean-Baptiste Andrea, ganhou o Goncourt 2023 , o principal prémio literário francês, através de um desempate realizado pelo presidente depois de 14 rondas a terminarem 5 contra 5. “Sarah, Susanne et l'écrivain” de Eric Reinhardt, o candidato natural a este tipo de prémio, ficou pelo caminho. Dito isto, “Velar por Ela” afasta-se das convenções dos prémios literários não conotando com complexidade, profundidade nem singularidade. Contudo, a história é original, a escrita é poética e fluída, e a trama enreda-nos em velocidade e até à última página. O cenário é uma aldeia no norte de Itália atravessado por toda a primeira parte do século XX. O nó do conflito centra-se sobre a amizade improvável entre uma menina da alta, Viola, intelectualmente dotada mas retraída pela família e costumes, e um jovem anão, Mimo, sem família nem posses, mas com um dom de génio para a escultura. Um cenário que nos transporta para o “Cinema Paradiso” (1988), com peripécias dignas de “ O ...