Notas sobre "Everything Must Go" (2025)
Terminei recentemente a leitura de Everything Must Go: The Stories We Tell About the End of the World de Dorian Lynskey, ou, para ser honesto, li até ao meio e depois fui lendo na diagonal. Não que o livro não tenha o seu valor. Lynskey apresenta um levantamento cronológico impressionante das narrativas sobre o fim do mundo, começando na Bíblia e avançando pelos séculos, atravessando temas como o último homem, a bomba, as máquinas ou pandemias. Um trabalho árduo, sem dúvida. Porém, a sensação dominante ao virar cada página foi a de uma oportunidade desperdiçada.
O problema não está sequer na escolha de um enfoque marcadamente ocidental e cristão — uma limitação evidente, mas que aceitaria se viesse acompanhada de uma proposta clara. O verdadeiro vazio do livro reside naquilo que nele falta: pensamento. Lynskey faz um inventário, mas nunca arrisca uma interpretação, nunca procura responder ao que estes mitos e medos revelam sobre nós enquanto espécie, cultura ou sociedade. Tudo se resume a uma colecção de resumos e curiosidades, organizada tematicamente, sem um fio conceptual que una os fragmentos. No final, não há mais do que um catálogo ampliado, pronto para ser folheado mas rapidamente esquecido.
E aqui está o ponto que me inquieta. Porque o que Lynskey faz — e fá-lo competentemente, reconheça-se — é algo que hoje pode ser feito, e com crescente eficácia, por ferramentas como o Deep Research. Compilar, resumir, agregar. A máquina faz. O que ela não faz — e onde reside o papel insubstituível do ensaísta, do investigador — é operar sobre o material bruto e extrair um novo olhar, uma hipótese, uma leitura inesperada, provocante ou inquietante.
Infelizmente, encontramos cada vez mais obras de não-ficção neste registo: trabalhos que confundem erudição com investigação, acumulação com pensamento, síntese com reflexão. São livros que pedem respeito pelo esforço de pesquisa, mas que deixam o leitor sem pistas sobre o que fazer com aquilo que acabaram de ler.
Na era da informação total, onde o acesso às fontes é tão imediato e os dados se multiplicam, o verdadeiro desafio, há muito que deixou de estar no mero reunir, para se centrar no filtrar, recortar, e interpretar. O mundo não precisa de mais compêndios; precisa de quem lhes dê sentido.
Lynskey gastou dois anos a fazer aquilo que uma IA hoje poderia fazer em duas horas. Para quê escrever um livro destes?
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Nota: Este texto foi desenvolvido a partir de uma interação com um modelo de linguagem avançado (IA), usado aqui como interlocutor crítico e ferramenta de estruturação.
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