Contos em Três Movimentos

Não costumo chorar. Mas ontem, enquanto via a terceira história de " Wheel of Fortune and Fantasy" , de Ryūsuke Hamaguchi, senti algo a abrir-se. Não chorei, mas estive perto. E percebi: o que me impede não é a ausência de emoção, é o lugar onde ela se instala. A literatura, a que leio, a que admiro, raramente me faz chorar. Talvez porque me puxa para o pensamento, para o desdobramento do gesto, para a arquitetura das intenções. No cinema, porém, quando tudo se alinha, a voz, o olhar, o tempo suspenso entre duas personagens que fingem e, no fingimento, se reconhecem, acontece outra coisa. A emoção pede presença. O filme de Ryūsuke Hamaguchi não tem música que empurra, nem efeitos que sacodem. Tem apenas três histórias. Três encontros. Três variações sobre o que nos prende e nos escapa. E talvez seja isso que o torna tão devastador: não há heroísmo, nem redenção, apenas o espanto íntimo de nos vermos ali, no centro de uma palavra mal dita, de um silêncio demasiado longo, de um...