Não-Humano (1948)
Há livros que nos obrigam a confrontar o abismo da experiência humana, e há livros que apenas nos apontam esse abismo com indiferença. "Não-Humano", de Osamu Dazai, pretende ser o retrato cru da alienação moderna, mas o que encontrei foi antes o relato algo lânguido de uma existência parasitária, encenada com elegância mas vazia de verdadeiro impacto.
A história gira em torno de Yozo, um jovem incapaz de se integrar na sociedade, desprovido de sentido existencial, movendo-se entre máscaras sociais, vícios e relações falhadas. Desde cedo se apresenta como alguém diferente, incompreendido, inadaptado – mas nunca se torna mais do que isso. O que poderia ser o ponto de partida para um confronto profundo com a condição humana transforma-se numa deriva repetitiva, onde o protagonista jamais se sujeita a um embate real com a vida.
A escrita de Dazai é cuidada, por vezes até bela na sua secura. Mas o estilo nunca resgata a matéria: o protagonista não se constrói, não se revela, não se transforma. E por isso, nunca me tocou. Nem a sua dor me pareceu verdadeira, nem os seus dilemas existenciais ganharam corpo.
A certa altura, vi-me a pensar em Sinais de Fogo de Jorge de Sena, não por afinidade temática ou estrutural, mas porque me devolveu um sentimento semelhante: o de personagens oriundos do privilégio, mergulhados numa crise existencial que nunca se liga a qualquer experiência de perda real. Em ambos os casos, o sofrimento é estetizado e a empatia, anulada. São histórias decorativas, que simulam profundidade enquanto se movem em círculos.
Chegado ao fim do livro, sinto apenas um Yozo parasita, sem responsabilidade, sem laço, sem vontade. Irrelevante, quase odioso. Não há ali nada que me toque. A vacuidade do protagonista não é espelho do mundo – é apenas e só vazio.
★★☆☆☆ (2/5)
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