Continuer (2016)
"Continuer" de Laurent Mauvignier, é um romance que se abre como uma ferida. A viagem de uma mãe com o filho adolescente, a cavalo pelo Quirguistão, é menos um gesto de fuga e mais um mergulho forçado num território interior onde cada gesto reverbera com uma intensidade que Mauvignier domina como poucos. A força do livro está logo no início, onde a emoção se cola à pele, quase como se a própria paisagem fosse moldada pelas tensões entre os dois. No entanto, o romance estende-se demasiado no meio, com detalhes e descrições que, apesar de belos, vão diluindo a tensão que a abertura prometia. Mauvignier escreve com aquela precisão lírica que o aproxima de Proust — uma atenção microscópica ao detalhe emocional, aos pequenos tremores do corpo e do pensamento — mas o seu gesto é mais visceral do que filosófico. A emoção aqui não é conceito: é matéria sensorial. Há uma cena que condensa esta força: o filho, Samuel, entra no carro e escolhe sentar-se no banco de trás, não ao ...