À Chegada (2022)
À Chegada ( Upon Entry ) (2023) é um filme mínimo, seco e devastador. Não pela intriga, quase inexistente, mas pela forma como opera no corpo do espectador. O argumento é simples: um casal que chega aos Estados Unidos para iniciar uma nova vida é retido no controlo de imigração e submetido a um interrogatório cada vez mais intrusivo. O que o filme disseca não é o sistema migratório; é o lugar secreto onde uma relação se pode partir. O que impressiona é a precisão quase cirúrgica das performances de Bruna Cusí e Alberto Ammann. O filme não vive do diálogo, mas daquilo que os corpos deles deixam escapar: o tremor na respiração dela, o maxilar crispado dele, a hesitação mínima que acende a suspeita, o olhar que já não encontra o do outro. A câmara mantém-nos presos a estas microfissuras. Há um realismo tão absoluto que, por momentos, desaparece a sensação de estarmos a ver ficção, o desconforto é físico. A tensão cresce não pelo risco externo, mas pela assimetria interna. Ela vem de um ...