Mensagens

A mostrar mensagens de dezembro, 2024

Literatura de Viagem

Imagem
"Border: A Journey to the Edge of Europe" (2017), não funcionou comigo. A búlgara Kapka Kassabova fala-nos de um lugar onde se cruza a fronteira entre a Bulgária, a Grécia e a Turquia, ao lado de um maçiço montanhoso, designado Strandja, que dá para o Mar Morto, tudo qualificado como a antiga região da Trácia. Quis muito ler, pensando que encontraria aqui mais uma pequena jóia como "Free" de Lea Ypi , contudo, acabou sendo uma enorme desilusão. Percebi só depois de ter desistido porquê. "Border" pertence a um género literário de que não sou particularmente fã, a Literatura de Viagem. Não gostando muito de viajar, o meu problema com este tipo de literatura tem que ver com o facto de se centrar no Espaço-Tempo, o mundo que nos quer apresentar, deixando de fora os Personagens, as suas vidas, que é aquilo que realmente me interessa na literatura. Kapka Kassabova, é uma poeta que tudo faz para dourar exotismo do mundo que nos apresenta, mas que apesar de o faze...

Escrever através dos outros

Imagem
Não conhecia Philippe Lançon, cheguei a este seu livro através do acontecimento que lhe deu origem, o ataque terrorista à redação do jornal Charlie Hebdo, em 7 de janeiro 2015. Lançon, crítico literário, escrevia para o Charlie Hebdo, e para o Libération, onde tinha acabado de publicar a análise de “Submission” de Michel Houellebecq que seria posto à venda nesse mesmo dia. Lançon foi um dos poucos sobreviventes do ataque, apesar de ter sido atingido na cara e maxilar, tendo passado quase um ano no hospital, onde foi submetido a quase vinte operações para recuperar alguma das funcionalidades vitais — beber, comer e falar. Lançon escreve belissimamente. A forma do discurso é perfeita. Contudo, não faltam só competências narrativas, capazes de envolver o leitor, falta também mundo, nomeadamente matéria humana. Todo o livro é escrito como um conjunto de análises literárias. Análises de objetos e não de pessoas, de experiências humanas com sentires, vivências, alegrias, dores e aflições. F...

Comer o Buda (2020)

Imagem
Com muita pena, não funcionou comigo. Vinha com imensas expectativas, queria muito lê-lo, pois tinha adorado “Nothing to Envy” (2009) , focado na Coreia do Norte. A abordagem aqui seguida é muito próxima. Demick escolhe um conjunto de personagens da cidade de Ngaba , no Tibete, e segue os fios narrativos das suas vidas. Contudo, as histórias destes personagens acabam por falhar na explanação do real alcance dos efeitos da invasão e totalitarismo imposto pela China no Tibete.     A contextualização da invasão, nos anos 1950, apresenta um bom recorte do que aconteceu, colocando a nu a colonização forçada, realizada pela China em pleno século XX. Surpreende que tenha sido possível, contudo o livro de Demick caracteriza suficientemente o povo tibetano para compreendermos o fundo da questão. Ao fim de décadas a sonhar com pacifismo, aprendi que no nosso planeta não existe lugar para tal. Se um país quer ser independente, tem de lutar por isso. Mesmo o pacifismo de Gandhi não foi...

Um dos Nossos (2023)

Imagem
Tinha muitas expectativas quando peguei neste livro de Willa Cather. Adorei os seus “ The Professor's House ” e “ Minha Antónia ”. O registo aproxima-se, contudo estende-se além do sustentável pela narrativa, nomeadamente por ser quebrada em dois grandes momentos, a vida no interior dos EUA, e a partida para a Primeira Grande Guerra, por parte do personagem principal. Se na primeira parte a personagem parece querer evidencar algo particular de si, o modo como se sente desligado de tudo, a fazer recordar Stoner, contudo nada acabando por efetivamente desvelar-se, na segunda parte entramos num outro território, tão distinto a ponto de o próprio personagem servir apenas de veículo à narrativa, refugiando-se numa concha daquilo que foi apresentado na primeira parte. Compreendo o Pulitzer dado em 1923, cinco anos apenas após o fim da terrível guerra. Mas é um livro incapaz de sobreviver ao tempo, a falta do contexto experiencial duro dessa era afasta-nos, torna distante a leitura, o int...