Comer o Buda (2020)

Com muita pena, não funcionou comigo. Vinha com imensas expectativas, queria muito lê-lo, pois tinha adorado “Nothing to Envy” (2009), focado na Coreia do Norte. A abordagem aqui seguida é muito próxima. Demick escolhe um conjunto de personagens da cidade de Ngaba, no Tibete, e segue os fios narrativos das suas vidas. Contudo, as histórias destes personagens acabam por falhar na explanação do real alcance dos efeitos da invasão e totalitarismo imposto pela China no Tibete.  
 

A contextualização da invasão, nos anos 1950, apresenta um bom recorte do que aconteceu, colocando a nu a colonização forçada, realizada pela China em pleno século XX. Surpreende que tenha sido possível, contudo o livro de Demick caracteriza suficientemente o povo tibetano para compreendermos o fundo da questão. Ao fim de décadas a sonhar com pacifismo, aprendi que no nosso planeta não existe lugar para tal. Se um país quer ser independente, tem de lutar por isso. Mesmo o pacifismo de Gandhi não foi sozinho responsável pela liberação da India, foi preciso mais do que isso. Percebo que o Dalai Lama, enquanto líder espiritual, não possa advogar outra abordagem além do pacifismo. Mas se o Tibete algum dia quiser ser verdadeiramente independente vai ter de se erguer para o fazer. Pense-se no que aconteceu recentemente no Afeganistão. Com a retirada dos EUA, o país foi automaticamente tomado por uma horda de selvagens. Um país para existir tem de garantir que existe um povo disposto a lutar por ele.   
 
Por outro lado, todo este trabalho de Demick cai um bocado por terra quando na última parte ela reflete um pouco sobre a relação mais alargada do Tibete com a China, para dizer que "os uigures passam por uma situação ainda pior do que a dos tibetanos". Acreditando, porque tenho lido algumas coisas terríveis sobre a situação dos uigures, passa a ideia de que afinal no Tibete não estão assim tão mal, e que existem problemas maiores a ter em conta. 

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