Um dos Nossos (2023)

Tinha muitas expectativas quando peguei neste livro de Willa Cather. Adorei os seus “The Professor's House” e “Minha Antónia”. O registo aproxima-se, contudo estende-se além do sustentável pela narrativa, nomeadamente por ser quebrada em dois grandes momentos, a vida no interior dos EUA, e a partida para a Primeira Grande Guerra, por parte do personagem principal. Se na primeira parte a personagem parece querer evidencar algo particular de si, o modo como se sente desligado de tudo, a fazer recordar Stoner, contudo nada acabando por efetivamente desvelar-se, na segunda parte entramos num outro território, tão distinto a ponto de o próprio personagem servir apenas de veículo à narrativa, refugiando-se numa concha daquilo que foi apresentado na primeira parte. Compreendo o Pulitzer dado em 1923, cinco anos apenas após o fim da terrível guerra. Mas é um livro incapaz de sobreviver ao tempo, a falta do contexto experiencial duro dessa era afasta-nos, torna distante a leitura, o interesse, retirando força à ligação humana.


Do lado da crítica, existe uma tentativa por racionalizar a abordagem de Cather à primeira guerra, nomeadamente pela distinta perspectiva que oferece do olhar masculino sobre a guerra. Terá existido alguma crítica à perspectiva de Cather, realizada por Hemingway, entre outros, pelo facto de Cather nunca ter estado num cenário de guerra. Senti um misto de ambos. Por um lado, percebe-se que Cather não conhece a vida em guerra, não sei se se inspirou em "The Birth of a Nation" (1915) como atacou Hemingway, mas o olhar é distinto, longe do heróico, ou mesmo do trágico. É um claro olhar feminino, focado na descrição do sentir, sem grandes altos nem baixos, como que aceitando a realidade como ela é, inevitável.

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