Mensagens

A mostrar mensagens de outubro, 2024

O simplismo de "Atomic Habits"

Imagem
"Atomic Habits" (2018) está no top dos livros de não-ficção e de auto-ajuda há vários anos. Inicialmente não lhe prestei atenção, pois não me parecia trazer nada de novo. Contudo, com o passar dos anos, e com tanta recomendação, acabei por ceder a dedicar-lhe alguma atenção e tentar perceber o que tínhamos ali. A intuição inicial estava certa. Não só não há aqui nada de novo, como o que aqui temos apesar de poder parecer muito interessante para um número alargado de pessoas, pode transformar-se em algo problemático para quem padece de reais patologias do foro psicológico. O problema, é que o comportamento humano é algo tão complexo como aquilo que faz de nós aquilo que somos, e se reduzido a conjunto de indicadores simplistas —que até podem ser aplicados no design de um serviço ou de uma máquina — não devem ser listados, vendidos, desta forma como prontos a resolver os problemas de tudo e todos. A isto juntam-se as certezas do autor, dignas do autoconvencimento do ChatGPT. O

Kindred (1979)

Imagem
“Kindred” é um livro do seu tempo, mas é um livro que continua a fazer pleno sentido ser lido nas escolas, nomeadamente dos EUA, e  que não faria mal nenhum sê-lo também na Europa e América Latina. Octavia Butler é reconhecida como a primeira autora negra de ficção científica, e este seu livro é uma das evidencias que sustenta esse reconhecimento. Não só o tema é profundo, como o cenário usado para o discutir é emocionalmente inteligente. Temos uma escritora afro-americana nos anos 1970 que se vê de repente regressada ao passado da escravatura no sul dos EUA, tendo de lidar com as normas sociais do início do século XIX sob a cor da sua pele. O resultado apresenta-se como uma fusão, muito conseguida, entre “Time Machine” (1895) de HG Wells e “Beloved” (1987) de Toni Morrison. Entretanto, o livro ganhou uma adaptação recente para televisão . "Kindred" pode ser visto como uma simulação laboratorial, pela ficção, da vida em tempos de escravatura, oferecendo-nos não apenas a persp

Muito barulho por nada

Imagem
“Co-Intelligence: Living and Working with AI” (2024) de Ethan Mollick transformou-se num sucesso de vendas e citações em muito pouco tempo, pelo que apesar do título não me oferecer nada de novo, acabei por ceder a ler para perceber de que era feito o hype. Não passou disso mesmo, ‘muito barulho por nada’. Mollick é um professor de gestão e inovação, grande entusiasta desta última geração de IA, pelo que dedica todo o livro a discutir as experiências que tem feito, a maior parte delas a nível meramente pessoal, ou seja, sem evidências. Por outro lado, quando cita estudos, fá-lo de forma ligeira, extraindo o que lhe interessa e ignorando o que não interessa, não mencionando o escopo e amostras reduzidas dos mesmos. Alguns casos são mesmo gritantes, e um deles abre logo o livro pelo que o transcrevo abaixo [1]. Ou seja, é um livro para amantes desta nova IA, para todos aqueles que acreditam que vão ter um assistente para fazer todo trabalho chato por si, mais, para todos os que pensam qu

Nexus (2024)

Imagem
Este é o 4º livro de Harari que leio, depois de " Sapiens " (2011), " Homo Deus " (2015) e " 21 Lições " (2018), pelo que a minha experiência de leitura refletirá essas mesmas leituras prévias. Assim, se leram os livros anteriores, não esperem encontrar aqui qualquer nova ideia. Harari mantém-se colado aos temas desses livros prévios, com maior ênfase em Homo Deus e 21 Lições . O que Harari aqui tenta fazer novo é criar um modelo de análise política baseado em sistemas de informação, recorrendo a todo o seu conhecimento de História, juntando-o à sua sagacidade de análise e interpretação dos sinais contemporâneos. Contudo, esse modelo que parece ser o ponto de arranque do livro, e do próprio título, depressa passa a segundo plano para se centrar no que mais gosta de fazer, as análises de casos — questões éticas sobre política e  tecnologia — a partir do que vai realizando pequenas abstrações sobre a realidade.  O modelo que Harari começa por tentar desenha