Nexus (2024)

Este é o 4º livro de Harari que leio, depois de "Sapiens" (2011), "Homo Deus" (2015) e "21 Lições" (2018), pelo que a minha experiência de leitura refletirá essas mesmas leituras prévias. Assim, se leram os livros anteriores, não esperem encontrar aqui qualquer nova ideia. Harari mantém-se colado aos temas desses livros prévios, com maior ênfase em Homo Deus e 21 Lições. O que Harari aqui tenta fazer novo é criar um modelo de análise política baseado em sistemas de informação, recorrendo a todo o seu conhecimento de História, juntando-o à sua sagacidade de análise e interpretação dos sinais contemporâneos. Contudo, esse modelo que parece ser o ponto de arranque do livro, e do próprio título, depressa passa a segundo plano para se centrar no que mais gosta de fazer, as análises de casos — questões éticas sobre política e  tecnologia — a partir do que vai realizando pequenas abstrações sobre a realidade. 

O modelo que Harari começa por tentar desenhar é alavancado na ideia de que se no passado tínhamos defendido que ter mais informação era sinónimo de mais progresso e justiça, esse paradigma foi alterado com as redes sociais, pelo que já não chega dar acesso a mais informação. Ou seja, a questão não está na quantidade mas na qualidade, nomeadamente no modo como as pessoas criam sentido (nexus) da informação a que acedem. Naturalmente Harari é um grande especialista em História, e têm-se interessado muito pela tecnologia, mas se tivesse feito um pequenino desvio, teria percebido que não diz nada que os especialistas em Literacia dos Média não andem a dizer há décadas. 

“Having a lot of information doesn’t in and of itself guarantee either truth or order.”

“Our tendency to summon powers we cannot control stems not from individual psychology but from the unique way our species cooperates in large numbers. The main argument of this book is that humankind gains enormous power by building large networks of cooperation, but the way these networks are built predisposes us to use that power unwisely. Our problem, then, is a network problem.”

Aliás, o problema deste livro reside, para mim, no facto de Harari, apesar de toda a sua enorme capacidade de interpretação da realidade, não ter ainda compreendido que quando se analisa a realidade a partir do mesmo viés, ou manancial de conhecimento base, no seu caso a História Medieval, é difícil chegar a ideias novas. Ou seja, este livro é uma repetição de todo o seu modo de ver o mundo, ao qual são adicionados novos casos do impacto das tecnologia na política, que sendo interessantes não justificam um livro, funcionam melhor para os pequenos artigos que vai escrevendo.

“Rather, to survive and flourish, every human information network needs to do two things simultaneously: discover truth and create order.”

Uma nota final, muitos dos ataques que se veem a Harari são politicamente motivados, desde logo, porque como é claramente evidenciado neste livro, este não tem qualquer pudor em destruir mitos marxistas assim como de extrema-direita, criando deste modo facilmente inimigos.

"Another problem with any attempt to represent reality is that reality contains many viewpoints. (...) That does not mean, of course, that there are several entirely separate realities, or that there are no historical facts. There is just one reality, but it is complex.

Reality includes an objective level with objective facts that don’t depend on people’s beliefs; (...)

Reality also includes a subjective level with subjective facts like the beliefs and feelings of various people, but in this case, too, facts can be separated from errors. (...)

Ultimately, each individual has a different perspective on the world, shaped by the intersection of different personalities and life histories. Does this imply that when we wish to describe reality, we must always list all the different viewpoints it contains(...)?

Taken to extremes, such a pursuit of accuracy may lead us to try to represent the world on a one-to-one scale, as in the famous Jorge Luis Borges story “On Exactitude in Science” (1946). (...) A one-to-one map may look like the ultimate representation of reality, but tellingly it is no longer a representation at all; it is the reality.

The point is that even the most truthful accounts of reality can never represent it in full. There are always some aspects of reality that are neglected or distorted in every representation. Truth, then, isn’t a one-to-one representation of reality. Rather, truth is something that brings our attention to certain aspects of reality while inevitably ignoring other aspects. No account of reality is 100 percent accurate, but some accounts are nevertheless more truthful than others."

Comentários

Mensagens populares deste blogue

Depois do Substack e do Wordpress, de volta ao Blogger

A manipulação de Graham Hancock (Netflix)

"Caderno Proibido" de Alba Céspedes