SEE (1.ª temporada)

É quase impossível não nos sentirmos seduzidos pelo mundo de SEE (2019) . A série envolve-nos num universo visualmente marcante, onde a ausência de visão molda o quotidiano, a linguagem e a guerra. E, no entanto, à medida que os episódios avançam, é essa mesma sedução que começa a ruir sob o peso de um guião preguiçoso, incoerente e preso a convenções ultrapassadas. A primeira grande fissura surge numa das cenas mais faladas da temporada: a masturbação da Rainha Sibeth enquanto reza. Se, num primeiro olhar, o gesto poderia ser lido como uma fusão transcendental entre espiritualidade e prazer — quase uma performance de autonomia corporal e mística —, rapidamente percebemos que a série não quer, afinal, explorar essa complexidade. A repetição do ritual, agora forçando uma escrava a um ato sexual, revela o subtexto: estamos perante a velha figura da vilã hipersexualizada, onde o corpo feminino serve para marcar perversidade e desvio. Uma leitura que poderia ter sido libertadora torna-se a...