A loucura que não chega para quebrar a fantasia
Realizado por Benoît Delhomme, Mothers' Instinct (2024) adapta o romance belga "Derrière la haine" (2013) de Barbara Abel , trazendo para o ecrã a história de duas mães cuja amizade é corroída por uma tragédia. Anne Hathaway e Jessica Chastain lideram um filme que parece, à superfície, um thriller psicológico tradicional — mas que, no seu subsolo, expõe algo mais inquietante — a derrocada de uma alma mascarada pela preservação da perfeição de uma era passada.
Interpretado de forma magnífica pelas duas atrizes, o filme começa num compasso lento, impregnado de pequenos gestos quotidianos que ocultam tensões subterrâneas. Depois, acelera — primeiro timidamente, depois de forma vertiginosa — até mergulhar numa espiral de decisões insanas que culminam numa insanidade silenciosa, tão subtil que quase se confunde com a normalidade.
É precisamente nesse bordado entre o realismo psicológico e a estrutura de thriller que o filme opera: encena uma época passada — os anos 1950 — mas fá-lo não a partir de uma arqueologia do vivido, e sim a partir da iconografia cinematográfica desses tempos. A dona de casa perfeita, o bairro idílico, a vizinhança ordenada: tudo aqui é já imagem de uma imagem, reconstrução de uma ficção social.
Essa escolha estética torna o filme mais inquietante do que parece à primeira vista. A dor que se tenta ali conter — a devastação de uma mãe pela perda do filho — não cabe no quadro que lhe é dado. Não cabe no figurino da mulher sorridente, nem no molde da esposa exemplar. E, no entanto, o filme não rompe o molde. Permanece dentro dele, sustentando a fachada mesmo quando tudo o que havia de humano nas personagens foi consumido pela dor.
Jessica Chastain, como a segunda mãe, parece destinada a ser o espelho e o contraponto — mas acaba por ser tragada pela narrativa da primeira. A densidade emocional que o filme tenta carregar é, assim, demasiado grande para o seu próprio formato.
E o final, com Anne Hathaway a "safar-se" socialmente depois de todas as suas ações devastadoras, não é um triunfo verdadeiro: é a vitória da máscara sobre a carne, da imagem sobre a vida.
O filme, no fundo, joga o jogo das aparências que poderia ter desmascarado. Mothers' Instinct não é apenas a história de uma loucura silenciosa; é também o retrato de uma época e de uma sociedade que preferem a manutenção da fachada ao enfrentamento da dor real. E, nesse reflexo inclemente, talvez resida o seu maior (e mais inquietante) valor.
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Nota: Este texto foi desenvolvido a partir de uma interação com um modelo de linguagem avançado (IA), usado aqui como interlocutor crítico e ferramenta de estruturação.
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