O Ministério da Perda de Tempo
“O Ministério do Tempo” (2024) de Kaliane Bradley foi promovido com toda a pompa em termos de marketing, conseguindo acumular mais de um milhar de críticas no Goodreads antes mesmo do seu lançamento. Muitas delas descreviam-no como algo totalmente original. Interessei-me pelo lado da ficção científica, mas o livro revelou-se não só fraco na estrutura narrativa e na escrita, como também desprovido de originalidade. O marketing foi tão bem feito que o título chegou a figurar entre os nomeados para diversos prémios: Audie Award Nominee for Fiction (2025), Women's Prize for Fiction Nominee for Longlist (2025), Goodreads Choice Award for Science Fiction e Nominee for Debut Novel (2024). O livro saiu em maio de 2024 e, ao longo do ano, as avaliações mantiveram-se consistentemente acima de 4 estrelas. No entanto, ao revisitá-lo agora, vejo que a sua média desceu para 3.6 – muito mais próximo das 2 estrelas que tenho para lhe atribuir.
Começando pela história. A premissa de transportar pessoas no tempo para resolver problemas noutras eras não tem absolutamente nada de novo. Ainda recentemente, a televisão apresentou-nos duas séries com variações desta ideia: Travelers (2016–2018), com três temporadas, e Loki (2021–2023), com duas temporadas.
Em Travelers, temos uma sociedade futura que envia indivíduos para o passado para corrigir eventos e evitar catástrofes futuras – algo semelhante ao conceito de Terminator (1984), mas focado em pequenas alterações, incluindo o impacto das mudanças climáticas. A forma como as pessoas são transportadas é próxima da escolhida por Bradley: apenas são extraídas ou substituídas nos momentos em que estão prestes a morrer.
Já em Loki, temos a Time Variance Authority (TVA), uma verdadeira “agência do tempo”, completamente desenvolvida, estruturada e com um propósito claro – o oposto da confusão narrativa criada por Bradley, onde o próprio conceito do ministério parece difuso e mal explorado.
Mas se o objetivo do livro era focar-se nas implicações sociais e emocionais de deslocar pessoas no tempo, então há um exemplo clássico que o fez de forma infinitamente superior: Kindred (1979), de Octavia Butler. Butler constrói uma narrativa intensa e emocionalmente complexa ao acompanhar uma mulher negra que é transportada involuntariamente para o século XIX e forçada a confrontar a brutalidade da escravidão. A diferença fundamental está na profundidade com que Butler explora as implicações psicológicas e morais da viagem no tempo, enquanto em The Ministry of Time, tudo parece superficial e sem consequência real.
Ainda assim, a ideia poderia ter funcionado se fosse bem executada. Infelizmente, a escrita revela-se frágil, sem densidade ou imaginação, traída por metáforas forçadas e desprovidas de impacto. Eis alguns exemplos:
"Esse hábito continua a ser revelador – disse a Adela, mas fez um gesto de leitor de DVD com a boca e queixo que seria provavelmente um sorriso."
"Ele estava sentado à mesa de jantar, enroscado como uma raiz que invade todo o vaso, curvado sobre o computador portátil."
"O dia abriu-se em meu redor. Vadeei através da sua gema rançosa e vívida, sentindo-me estragada pela cor e pela profundidade da visão normal."
"Eu estava bêbeda, claro. A minha palma cobrou vários centímetros quadrados quentes das costelas dele, através da roupa."
Estas frases parecem saídas de um gerador automático de metáforas, desprovidas de subtileza e criatividade, sem um sentido visual forte. Tornam a leitura um exercício frustrante, levando-me repetidamente a revirar os olhos e desejar atirar o livro pela janela.
Em termos estruturais, li algumas críticas que mencionavam que a primeira parte do livro era mais parada, mas que o ritmo acelerava bastante no último terço. Decidi lê-lo até ao fim, esperando essa aceleração – que nunca chegou. Não há qualquer viragem para um thriller; pelo contrário, a narrativa mantém-se morna e sem grandes reviravoltas.
O livro é, no essencial, um grande tijolo narrativo, básico, que parte de uma premissa intrigante, mas oferece muito pouco. Temos personagens retiradas de diversos períodos históricos – Thomas Cardingham (1645), Margaret Kemble (1665), Anne Spencer (1793), Graham Gore (1847), Arthur Reginald-Smyth (1916) – que são trazidas para a Londres contemporânea, mas que pouco ou nada acrescentam à história. Não parecem aprender com o presente, nem oferecem nada de especial a quem os recebe. A construção das personagens é rasa e desinteressante.
A protagonista, por sua vez, é praticamente passiva ao longo de toda a narrativa. Assiste aos eventos sem grande envolvimento e apenas se revela no final, quando finalmente assume um papel mais ativo. Mas quando isso acontece, já é tarde demais para redimir a história ou gerar um impacto significativo. É uma presença apagada, sem força suficiente para sustentar a trama.
Para tentar trazer alguma diferenciação, a autora insere elementos autobiográficos ao fazer da protagonista descendente de cambojanos, mas essa camada parece completamente irrelevante dentro da narrativa. Fica a sensação de que Bradley quis acrescentar profundidade, mas não soube como. Ainda cheguei a pensar se esta suposta diversidade cultural foi um dos fatores que levaram Obama a escolher este livro como uma das suas leituras de 2024.
Uma verdadeira perda de tempo. Há muito que não me sentia tão defraudado pelas expectativas criadas à volta de um livro que, no fim, se revelou banal e insípido. Se há algo que se pode aprender com esta experiência, é a força do marketing – capaz de transformar um produto medíocre num fenómeno temporário.
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Nota: Este texto foi desenvolvido a partir de uma interação com um modelo de linguagem avançado (IA), usado aqui como interlocutor crítico e ferramenta de estruturação.
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