Late Shift (2025) – A humanidade que resiste no silêncio

Há filmes que nos atravessam sem pedir licença, e Late Shift , da realizadora suíça Petra Biondina Volpe, é um desses raros gestos de contenção absoluta que, precisamente por isso, nos trespassam. Vi-o sem saber ao certo o que esperar, e saí em silêncio, o corpo ainda a tremer, como se tivesse vivido um turno inteiro naquele hospital exausto. Tudo se passa num só cenário: um hospital público, corredores despidos de música, quartos de tensão, máquinas a apitar, pessoas a falhar e a resistir. O filme não precisa de mais. A câmara acompanha Floria (interpretada por uma Leonie Benesch absolutamente desarmante) durante o seu turno da noite. Nada de novo, dir-se-ia. Mas esse é precisamente o ponto: o que aqui se filma é o excesso do que já está a acontecer. Não há espaço para ornamentação, já basta o real. Leonie Benesch, que muitos conhecerão do soberbo The Teachers' Lounge , volta aqui a provar que há atrizes que não representam: habitam . Floria não é um papel, é uma presença. O mod...