A Leste do Paraíso (1952) de John Steinbeck

"A Leste do Paraíso", de John Steinbeck, opera sobre uma falha monumental.

A narrativa assenta numa leitura direta do mito bíblico de Caim e Abel — um mito que nunca considerei intelectualmente sustentável: Deus escolhe Abel, não explica porquê; Caim reage e torna-se o culpado absoluto.

Narrativamente, isto é um erro básico.
Eticamente, é um crime simbólico.

Personagens sem motivações compreensíveis, ações sem causa explicada e uma moral arbitrária imposta por autoridade — não construída por experiência humana — ensinam apenas que a exclusão pode ser arbitrária, que a culpa pode preceder a ação e que um ser humano não precisa de ser compreendido para ser condenado.

Steinbeck transpõe este modelo para um romance que se apresenta como realista, mas o resultado é profundamente frágil: personagens que são boas ou más “porque sim”, um mal tratado como essência e não como processo, e um conflito humano reduzido a alegoria infantil.

Não encontro aqui realismo, nem naturalismo, nem psicologia credível — apenas simbolismo simplista apresentado como profundidade. Steinbeck afirma que “tu podes escolher”, mas a nenhum dos seus personagens é dada escolha.

A base narrativa é muito pobre. O resultado criado por Steinbeck é completamente cego.

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