Lembrança do Passado da Terra
“A Morte Eterna” é um livro verdadeiramente inebriante. Sendo a terceira parte de uma saga, vem munido de um extenso contexto que lhe permite trabalhar amplamente as reviravoltas de enredo que agarram a nossa atenção. Por outro lado, quantas terceiras-partes conhecemos que vão verdadeiramente além da obra original? É-me muito difícil dar conta da intensidade da experiência desta leitura, porque Liu Cixin junta o melhor da arte de contar histórias com o melhor da ciência. Cixin consegue imaginar, especular, a representação de uma realidade futura de tal forma factual que quase parece estar a escrever uma ficção histórica, talvez não por acaso o título da trilogia foi estabelecido como "Lembrança do Passado da Terra". A quantidade de conceitos elaborados e os enredos construídos em redor desses é estonteante, dando conta de um virtuosismo singular, não na forma escrita, nem na construção dos personagens, mas na capacidade de criar mundos e fazer-nos passear dentro deles através de cadeias de eventos que se vão tornando cada vez mais surpreendentes, criando uma espécie de rastilho para o fim dos fins, do livro, e do universo, ao longo de milhões de anos. O primeiro livro tinha-me interessado em parte. O segundo livro aproximou-me totalmente do mundo. Mas este terceiro livro atirou-me ao tapete. Não raras vezes senti arrepios quando voltava a mergulhar naquele magnífico universo.
Liu Cixin é o primeiro autor chinês de FC a tornar-se uma estrela global, o seu brilhantismo é por demais reconhecido. Contudo esta série teve a capacidade de perfurar todos os crivos culturais graças a todas as influências que Cixin soube muito bem cruzar entre o Ocidente e a China. Cixin refere como grandes influências dois livros de Arthur C. Clarke, "2001: A Space Odyssey" e "Rendezvous with Rama", mas cita também livros "Mil Novecentos e Oitenta e Quatro" de George Orwell ou "Guerra e Paz" de Tolstoy. Ao longo desta saga podemos encontrar referências mútiplas a obras de cinema, música e literatura tanto eruditas como populares, o que torna o mundo criado por Liu Cixin imensamente acessível para a generalidade da população que se habitou a consumir cultura Europeia e Norte-Americana. Para quem não tem referências do lado chinês, pode até parecer que o livro está demasiado colado à realidade ocidental, mas isso acontece porque nos faltam essas mesmas referências. Para quem quiser aprofundar este cruzamento de culturas, e compreender melhor como Cixin foi construindo cada um dos seus grandes conceitos aconselho vivamente o livro “Chinese and Western Literary Influence in Liu Cixin’s Three Body Trilogy” (2021) de Will Peyton.
Dei apenas 3 estrelas ao primeiro livro, "O Problema dos Três Corpos", 4 ao segundo, "A Floresta Sombria", e agora este último foi além de todas as expectativas.
Nem sempre é um livro fácil, nomeadamente quando se começam a discutir as variações na velocidade de luz, ou quando se fala nos diferentes tipos de tecnologias de manutenção da vida e comunicação no espaço, atingindo o auge da complexidade quando discute as variações dimensionais. Mas Cixin não impede o leitor menos instruído em Física e Matemática de prosseguir e continuar a viver a história contada. O livro apresenta várias camadas complexas, umas da física, outras do mundo da própria literatura, incluindo desde discussões sobre a propulsão por curvatura ao significado de metáforas de segundo grau. É uma ponte completa entre os reinos da ciência e das humanidades, num trabalho criado por uma mente brilhante, dotada de uma incomensurável visão do mundo.
Liu Cixin é o primeiro autor chinês de FC a tornar-se uma estrela global, o seu brilhantismo é por demais reconhecido. Contudo esta série teve a capacidade de perfurar todos os crivos culturais graças a todas as influências que Cixin soube muito bem cruzar entre o Ocidente e a China. Cixin refere como grandes influências dois livros de Arthur C. Clarke, "2001: A Space Odyssey" e "Rendezvous with Rama", mas cita também livros "Mil Novecentos e Oitenta e Quatro" de George Orwell ou "Guerra e Paz" de Tolstoy. Ao longo desta saga podemos encontrar referências mútiplas a obras de cinema, música e literatura tanto eruditas como populares, o que torna o mundo criado por Liu Cixin imensamente acessível para a generalidade da população que se habitou a consumir cultura Europeia e Norte-Americana. Para quem não tem referências do lado chinês, pode até parecer que o livro está demasiado colado à realidade ocidental, mas isso acontece porque nos faltam essas mesmas referências. Para quem quiser aprofundar este cruzamento de culturas, e compreender melhor como Cixin foi construindo cada um dos seus grandes conceitos aconselho vivamente o livro “Chinese and Western Literary Influence in Liu Cixin’s Three Body Trilogy” (2021) de Will Peyton.
Se todo o livro nos vai surpreendendo, o último terço é uma verdadeira torrente de acontecimentos que nos tiram da realidade que conhecemos e nos atira para um novo mundo de possibilidades nunca antes vistas ou imaginadas. Inebriante.
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