Goncourt 2023, 2º lugar para Eric Reinhardt

“Sarah, Susanne et l'écrivain” (2023) de Eric Reinhardt é o livro que terminou em ex aequo no Goncourt 2023, tendo ao fim de 14 rondas sido decidido pelo voto do presidente do júri por “Veiller pour Elle” de Jean-Baptiste Andrea. São dois livros muito distintos. “Veiller pour Elle” é um livro centrado na história que quer contar, enquanto “Sarah, Susanne et l'écrivain” se centra na forma do contar da sua história. Deste modo, não devem ser comparados, já que trabalham objetos distintos, pelo que seja natural esta divisão no júri que decorre da função que privilegiam na literatura. 

Sarah confia a história da sua vida a um escritor para que ele a transforme num romance. No romance, dentro do romance que lemos, Sarah chama-se Susanne, e nós seguimos a conversa entre Sarah e o escritor, nomeadamente algumas discussões sobre as opções criativas do escritor para ilustrar os factos apresentados por Sarah. A história de fundo dá conta de uma mãe de família que descobre que o marido possui 75% da casa comprada por ambos, decidindo sair de casa para forçar o marido a regularizar a diferença. A posição de força inicial de Sarah/Susanne acaba por se transformar numa fragilidade que a consome e nos arrasta atrás de si.

A história sofre de alguns pontos menos críveis, contudo como disse Eric Reinhardt, em entrevistas, o cerne dos factos não foram inventados, foram-lhe relatados por uma leitora sua que pediu anonimato. Pelo que acabamos a chegar ao meio do livro irritados com todos os personagens — a mulher, o marido e os dois filhos —, que explica algumas das reações mais negativas ao livro. Contudo, mantém-nos focados o artifício narrativo criado por Reinhardt, na tentativa por descobrir o que aconteceu, o que é real, o que se passou com Sarah, e o que se passa com Susanne, terminando as histórias de ambas de modo muito distinto.

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