Orbital: para além da Terra

Ler Orbital de Samantha Harvey é como atravessar uma fronteira do conhecido para o incógnito. Inicialmente, a fragmentação do texto convida à descoberta, abrindo uma janela para a realidade estranha e fascinante da vida em órbita. Harvey consegue transportar-nos para uma experiência quase sensorial, onde detalhes aparentemente banais — como a roupa suja, ou o ritmo alucinante de dezasseis amanheceres e entardeceres num único dia terrestre — adquirem uma nova dimensão, revelando-se profundamente significativos e existenciais.


“But there are no new thoughts. They’re just old thoughts born into new moments – and in these moments is the thought: without that earth we are all finished. We couldn’t survive a second without its grace, we are sailors on a ship on a deep, dark unswimmable sea.”

É importante destacar o excelente trabalho de pesquisa realizado pela autora sobre as condições de vida em órbita. Harvey oferece uma riqueza de informação nunca antes explorada, aprofundando com precisão e criatividade detalhes científicos e técnicos que conferem autenticidade à narrativa e ampliam o fascínio pela realidade espacial apresentada.

No entanto, a força inicial vai perdendo alguma intensidade. À medida que a narrativa avança, o fascínio inicial dilui-se em alguma repetição temática e imagética, como se a autora tivesse dificuldade em sustentar a complexidade e o mistério inicialmente prometidos. O texto começa a orbitar alguns dos mesmos pontos, retirando parte da energia inicial e tornando-se mais previsível.

Ainda assim, a obra mantém uma profundidade notável que se manifesta sobretudo no seu subtexto existencial. Harvey utiliza o ambiente espacial não para produzir uma mera narrativa de ficção científica, mas para conduzir uma meditação profunda sobre a nossa condição como espécie. A vida no espaço é transformada num reflexo da existência terrena, sublinhando a nossa ligação inescapável com a Terra. Por mais que ansiemos por liberdade e exploração cósmica, a ausência de gravidade recorda-nos da nossa fragilidade essencial e da nossa incapacidade física de viver permanentemente afastados do planeta que nos gerou.

“Our lives here are inexpressibly trivial and momentous at once, it seems he’s about to wake up and say. Both repetitive and unprecedented. We matter greatly and not at all. To reach some pinnacle of human achievement only to discover that your achievements are next to nothing and that to understand this is the greatest achievement of any life, which itself is nothing, and also much more than everything. Some metal separates us from the void; death is so close. Life is everywhere, everywhere."

O estilo poético e conciso de Harvey contribui significativamente para o impacto existencial da obra. Apesar de poder sofrer com algumas limitações de tradução, a escrita mantém-se incisiva e profundamente evocativa. São imagens que não apenas descrevem o espaço, mas que o habitam, oferecendo-nos uma visão mais tangível da vida em órbita.

Em última análise, a força de Orbital reside na sua honestidade brutal e na recusa de oferecer certezas fáceis. Ao invés de respostas, Harvey deixa-nos com perguntas perturbadoras que ressoam muito além da leitura. O que significa realmente ser humano? Poderemos alguma vez escapar às limitações impostas pelo nosso corpo e pela Terra? Ao abordar estas questões fundamentais, o livro estabelece-se como uma provocação intelectual e emocional que persiste muito depois de terminada a última página.

“Until then what can we do in our abandoned solitude but gaze at ourselves? Examine ourselves in endless bouts of fascinated distraction, fall in love and in hate with ourselves, make a theatre, myth and cult of ourselves. Because what else is there?"


***

Nota: Este texto foi desenvolvido a partir de uma interação com um modelo de linguagem avançado (IA), usado como interlocutor crítico ao longo do processo reflexivo. A estrutura e redação foram apoiadas pela IA, sob direção e revisão final do autor. 

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