Dar significado
“Mártir!” (2024) é um romance existencialista sobre um jovem escritor iraniano-americano apaixonado pela ideia de mártires, não as aberrações islâmicas, mas os mártires pacifistas do tipo Joana D’Arc, Bobby Sands ou o homem do tanque da Praça de Tiananmen. Cyrus perdeu a mãe numa catástrofe aérea, em 1988, que alguns ainda recordarão, o abate de um avião civil iraniano por um míssil americano lançado de um porta-aviações no Golfo, e que resultou em 290 mortes. A morte da sua mãe deveria significar algo mais para o mundo, acredita Cyrus, sendo esse o tema de fundo, o ato de significar.
Kaveh Akbar nasceu no Irão em 1989, e tal como o anti-herói, emigrou para os EUA com apenas dois anos. Doutorou-se em Escrita Criativa, e é hoje uma personalidade reconhecida, tendo recebido bolsas de prestígio, nos EUA pela sua poesia. “Mártir!” é o seu primeiro romance e é uma obra erudita na forma, mas acessível nas ideias. Akbar apresenta um domínio fascinante do discurso.
A característica principal que aponto ao discurso é o grau de autoconsciência, tanto da forma, o modo como o texto trabalha para comunicar, como a vertente humana, a relevância do eu e do outro. A formação do autor, que podia conduzir a um foco excessivo na forma, não se intromete na escrita que mantém plena organicidade. Nota-se que sabe muito bem o que está a fazer, como está a tentar dirigir/manipular o leitor, mas fá-lo de um modo muito autêntico. Acrescenta-se ainda o olhar acutilante que lhe permite criar episódios impactantes ao longo do texto (ex. a sequência do aviário) que geram surpresa e nos agarram às páginas.
Apesar da mestria, e de ter confecionado muito bem a grande revelação que se nos oferece perto do final, o livro é muito mais intenso na primeira metade. Acredito que pela nossa surpresa por encontrar um mundo novo de exposição e narrativa. Uma forma particular de representar a realidade que nos envolve e atrai, mas que se vai normalizando à medida que vamos lendo mais. Não que alguma vez se perca o interesse, o desejo de voltar e ler tudo de uma vez é sempre intenso.
A característica principal que aponto ao discurso é o grau de autoconsciência, tanto da forma, o modo como o texto trabalha para comunicar, como a vertente humana, a relevância do eu e do outro. A formação do autor, que podia conduzir a um foco excessivo na forma, não se intromete na escrita que mantém plena organicidade. Nota-se que sabe muito bem o que está a fazer, como está a tentar dirigir/manipular o leitor, mas fá-lo de um modo muito autêntico. Acrescenta-se ainda o olhar acutilante que lhe permite criar episódios impactantes ao longo do texto (ex. a sequência do aviário) que geram surpresa e nos agarram às páginas.
Apesar da mestria, e de ter confecionado muito bem a grande revelação que se nos oferece perto do final, o livro é muito mais intenso na primeira metade. Acredito que pela nossa surpresa por encontrar um mundo novo de exposição e narrativa. Uma forma particular de representar a realidade que nos envolve e atrai, mas que se vai normalizando à medida que vamos lendo mais. Não que alguma vez se perca o interesse, o desejo de voltar e ler tudo de uma vez é sempre intenso.
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