Coragem ou Narcisismo
Constance Debré, em Love Me Tender (2020) apresenta-se numa performance literária de voz direta, crua e nua. A sua escrita é um soco, sem filtros, quase um choque para o leitor. A autora despe-se de qualquer pudor, expondo as suas dores e a sua luta pela liberdade com uma franqueza que desperta tanto admiração quanto desconforto. A radicalidade da sua prosa está na recusa absoluta da máscara, num movimento contínuo de desnudamento, que parece desafiar o leitor a manter o olhar.
Debré é uma mulher que parece querer viver sem concessões, explorando o limite da autenticidade. Há, inicialmente, uma fascinação: queremos conhecer alguém capaz de se expor assim, de confessar sem medo os seus desejos, as suas escolhas, os seus fracassos. Mas, à medida que avançamos, começamos a sentir o peso da repetição. E o livro, mesmo sendo curto, torna-se circular, uma espiral de dor e desejo que se repete sem variação. É como se Debré estivesse presa num ritual de autossabotagem, onde cada novo amor é já o anúncio da próxima perda.
O problema fundamental é que essa repetição expõe uma contradição: Debré apresenta-se como uma figura livre, mas está presa na sua própria performance de liberdade. Ao multiplicar casos amorosos e recusar qualquer ligação duradoura, encarna uma forma radical de narcisismo — um eu que se consome a si próprio na busca constante de validação e prazer. A sua suposta liberdade, em vez de expandir o horizonte, acaba por encerrá-la num ciclo cada vez mais pequeno e isolado.
Há algo de inquietante na forma como Debré parece cortejar com um objetivismo próximo do pensamento de Ayn Rand: primeiro eu, depois os outros. Mas esta liberdade egoísta revela-se um fardo. Queixa-se de que o sistema não funciona em seu favor, mas esquece que ao rejeitar todos os laços, se exclui da rede social que poderia apoiá-la. Esta contradição é flagrante: ao desejar ser livre a qualquer custo, acaba por se isolar, como uma náufraga que recusa os botes de resgate.
Não se trata de defender uma subjugação ao marido ou às instituições. Trata-se de perceber que o mundo humano é, inevitavelmente, social. Mesmo a mais feroz independência precisa de pontos de contato. E quem decide viver como um lobo solitário não pode esperar que a matilha o acolha. A alternativa é o isolamento — o exílio emocional.
Debré escreve com uma precisão cruel, que revela tanto quanto oculta. Mas o seu desejo de liberdade absoluta acaba por revelar um paradoxo: ao negar todos os laços, expõe a sua própria solidão. E talvez seja essa a grande tragédia de Love Me Tender. Um grito de liberdade que ecoa num vazio. Um livro que começa como um gesto de desafio e termina como um espelho partido, onde cada fragmento devolve o rosto de uma solidão escolhida.
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Nota: Este texto foi desenvolvido a partir de uma interação com um modelo de linguagem avançado (IA), usado como interlocutor crítico ao longo do processo reflexivo. A estrutura e redação foram apoiadas pela IA, sob direção e revisão final do autor.
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