El Eternauta (1957-2025)

Comecei a ver The Eternaut na Netflix atraído pela imagem da máscara e pelo azul saturado que parecia definir o tom da série. Havia ali algo que me puxava. Ainda assim, quando percebi que era uma produção da América Latina, quase desisti. Tinha receio que fosse mais uma série no registo de telenovela, como tantas outras. Mas as críticas internacionais eram tão positivas, que decidi continuar.

No primeiro episódio, a série lançou-me num território visual que me fez pensar em Metro, o videojogo russo. O ambiente de neve tóxica, as máscaras, os corpos caídos nas ruas — havia ali uma composição quase poética. A morte não era choque, era quase uma aceitação — corpos dispostos como quadros numa galeria.

Mas à medida que os episódios avançavam, especialmente a partir do terceiro, o tom começou a mudar. A sensação de uma invasão alienígena, a ameaça que se insinua entre os sobreviventes, começaram a evocar War of the Worlds e Invasion of the Body Snatchers. A série parecia abraçar os clichés do sci-fi americano, mas sem a sua urgência. Em vez disso, respirava uma leveza argentina, uma tranquilidade que suavizava o horror. O fim do mundo era vivido, não apenas encenado.

E, no entanto, não houve um momento de verdadeira surpresa. Nenhum diálogo que se gravasse, nenhuma cena que deixasse marca. Mas também não houve desilusão. Gostei de todos os minutos. É como se estivesse a ver o fim do mundo, mas sem urgência. Uma candura nas personagens prendeu-me. Não são heróis a tentar salvar o mundo; são pessoas a tentar viver a vida, mesmo no meio do horror.

Prancha da banda desenhada original

Se Eternauta falha em ser uma adaptação argentina de um clássico? Não posso dizer. Não conheço a banda desenhada original, mas pelo que pesquisei, parecem uma obra muito densa em texto, quase prosa acompanhada de imagens. A série, ao contrário, opta por uma economia de diálogos e uma força visual. Talvez tenha perdido a profundidade literária do original, mas encontrou uma serenidade própria, quase contemplativa.

Quando o ecrã se apagou, fiquei apenas com a sensação de que a temporada 2 já estava a chegar.

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