Task (2025)

Há séries que começam bem demais. O primeiro episódio de Task (2025) pertence a essa categoria: uma narrativa que se basta a si mesma, um conto trágico de 60 minutos que nos preenche por completo.

Tudo está ali: o erro fatal, a culpa, o amor deformado, a fé perdida e a tentativa impossível de redenção. Robbie, o irmão de rosto angelical, é o centro emocional, um homem que acredita agir por justiça e acaba a destruir o que queria salvar. A sua expressão de pureza faz dele um anjo em queda, o espelho invertido do agente vivido por Mark Ruffalo, cuja contenção é penitência. Juntos, encenam o conflito eterno entre a lei e a compaixão, o cálculo e o impulso.

Quando Robbie leva o miúdo para casa, na cena final, a série atinge o sublime trágico. A luz é fria, o silêncio pesa, e cada movimento parece carregado de um significado moral que excede as palavras. Nesse instante, o espectador percebe: tudo o que importa já foi dito. É o hamartia aristotélico, a falha que revela a alma.

O problema é que Task não se deteve ali. Em vez de aceitar a perfeição breve do conto, quis transformar-se em romance: expandiu o mundo, multiplicou gangues, drogas, armas, e perdeu o fio interior que a tornava única. O que era tensão moral tornou-se ruído; o que era tragédia virou enredo.

Mas o primeiro episódio permanece, um artefacto quase literário, onde a televisão toca o domínio do romance moral e psicológico. É nele que a série vive, e talvez seja nele que devia ter ficado.

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