A House of Dynamite (2025)

No início, parece mais um filme sobre crise nuclear. O presidente, o estado-maior, os protocolos, os ecrãs. Acreditamos que vai haver uma decisão. Que alguém vai fazer o que é certo. É isso que o cinema nos ensinou: há sempre uma solução. Mas A House of Dynamite vai desmontando essa crença, plano a plano, até restar só o vazio.

A certa altura percebemos que nada do que fizerem importa. Que lançar ou não lançar é o mesmo. Que a defesa é uma ilusão moral. E é nesse momento que o filme deixa de ser ficção e passa a realidade sem disfarce. O mundo pode acabar com um míssil, e ninguém pode travá-lo. Não há tempo, não há sistema, não há escudo. A civilização inteira depende da sanidade de quem carrega num botão.

O vice-presidente telefona à filha e não diz nada. Esse silêncio é o retrato da verdade: já não há o que dizer. E depois põe fim à lucidez. Porque compreende que a vida, a família, o país, tudo o que o definia, deixou de ter relevância. O futuro já não existe.

Bigelow não mostra a explosão. Mostra algo mais insuportável: o instante em que percebemos que o mundo acabou e o corpo ainda respira. O que se desmorona não é a América, é a crença infantil de que estávamos protegidos. A câmara insiste no rosto do presidente, e só à terceira repetição entendemos: não há ali nada para decidir. A política, a autoridade, a moral, tudo é apenas ruído.

A House of Dynamite é uma lição brutal. Não sobre guerra, mas sobre ilusão. Bigelow obriga-nos a ver o que passámos décadas a ignorar: que vivemos sobre uma corda de aço fino, convencidos de que é chão. E que, se um só homem perder o juízo, dez milhões de pessoas deixam de existir.

No fim, o filme não termina, são as nossas certezas que terminam.

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