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Hors-saison (2023)

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Há filmes que só se compreendem depois da meia-idade. Hors-saison , de Stéphane Brizé, pertence a esse território reservado aos que já amaram, perderam e voltaram a ver o amor de frente, com a serenidade de quem já não espera nada. O filme fala na língua do depois, depois da paixão, depois da raiva, depois do tempo ter feito o seu trabalho silencioso. Hors-Saison , foi traduzido para Portugal como A Vida Entre Nós Durante a primeira metade, a música de Vincent Delerm parece querer ocupar espaço demais, como se Brizé desconfiasse da força do silêncio. Mas quando o reencontro amadurece e o que estava contido começa a vibrar, a música deixa de ser excesso para se tornar respiração. Cada nota traduz o que já não pode ser dito; a emoção muda de plano, e somos levados por ela sem defesa possível. Ele é o centro narrativo, mas é através dela, Alice, que vemos tudo. O olhar feminino absorve o mundo, e é nele que o espectador adulto se reconhece. Ele carrega a culpa; ela, a lucidez. Entre os d...

“September 5” (2024)

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Há filmes que não se limitam a contar uma história, mas que nos devolvem ao corpo de uma época. September 5 , de Tim Fehlbaum, é um desses raros momentos: um mergulho vertiginoso na sala de controlo da ABC durante o atentado aos Jogos Olímpicos de Munique em 1972. A primeira impressão é a tensão brutal criada através do minimalismo. Não há efeitos de espetáculo nem multiplicação de cenários; tudo se passa na clausura técnica do estúdio, entre botões, cabos, auriculares, monitores analógicos. É o regresso a um tempo em que a informação eletrónica ainda respirava com a lentidão da fita magnética e a fragilidade dos circuitos físicos. O filme faz-nos sentir o peso das decisões sem rede digital — quando cada corte de câmara era irreversível, cada palavra dita em direto ecoava sem possibilidade de edição ou correção.

O Estranho Desaparecimento de Esme Lennox (2006)

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The Vanishing Act of Esme Lennox (2006)  foi o quinto livro de Maggie O’Farrell que li. Tendo começado pelo fulgor de  Hamnet (2020) , seguido pela sumptuosidade de  The Marriage Portrait  (2022) , pelo realismo à pele de I Am, I Am, I Am (2017) , e até pela ousadia formal da sua estreia em After You’d Gone (2000) , cheguei a este romance de 2006 com expectativas elevadas. A premissa é fortíssima — uma mulher injustamente internada durante décadas — e bastaria, por si só, para dar corpo a um grande livro. Mas O’Farrell não confia nesse núcleo e, em vez de o explorar até às últimas consequências, enche a narrativa de camadas suplementares, traços dramáticos que se vão acumulando e que, em excesso, soam artificiais. O resultado é um texto que se lê com facilidade, porque está sempre a oferecer segredos, pequenas revelações, reviravoltas, mas que no fim deixa pouco atrás de si. Há aqui técnicas que parecem sofisticadas: as vozes fragmentadas, as elipses, os saltos temp...

Da encenação do preto e branco

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Há obras que me levam para territórios novos, e há outras que, mesmo estando muito perto dos meus temas de interesse, acabam por me deixar de fora. Foi o que aconteceu com Para Acabar de Vez com Eddy Bellegueule (2014) , de Édouard Louis, e com a sua adaptação livre ao cinema em Marvin ou la belle éducation (2017), de Anne Fontaine. O estranho é que, em teoria, ambos os objetos deveriam ter-me tocado a fundo: uma infância pobre, a violência familiar, a exclusão homofóbica, a fuga pela arte. Tudo elementos que reconheço como centrais e próximos daquilo que procuro compreender. Mas a leitura e a visualização não me deram verdade, deram-me encenação.

A Mulher da Areia (1962)

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Kōbō Abe colocou um homem num buraco de areia e deixou-o ali por trezentas páginas. A premissa é poderosa: um professor de Tóquio enganado por aldeões, preso numa casa que precisa ser escavada todas as noites para não desaparecer sob a areia. É impossível não pensar em Camus, Kafka ou Beckett — todos eles a dizerem-nos que a vida é um círculo repetitivo sem saída. Mas onde Camus encontra clareza filosófica e Beckett arranca humor negro do vazio, Abe entrega-nos apenas areia, sempre a mesma, noite após noite.

A bofetada de Isabela Figueiredo

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Isabela Figueiredo (n. 1963) nasceu em Lourenço Marques, atual Maputo, e veio para Portugal na adolescência, após o fim do colonialismo. O seu nome tornou-se conhecido com este " Caderno de Memórias Coloniais" (2009), um livro de memórias que rapidamente se tornou referência incontornável pela frontalidade com que abordou a herança colonial. Depois publicou os romances A Gorda (2016) e Um Cão no Meio do Caminho (2021), confirmando-se como uma voz singular: direta, depurada, incisiva, capaz de revelar os mecanismos íntimos de poder e desejo nas relações humanas. Li primeiro  Um Cão no Meio do Caminho , e fiquei muito impressionado . Depois a  A Gorda,   tornou-me fã . Queria mais. Demorei a chegar a este Caderno porque pensava tratar-se de uma obra mais académica, estava totalmente enganado, e nada preparado para o que li.

Entre Sísifo e os ex-amantes

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Ana Moreau canta Les Exs  (2023) como quem se expõe num recado deixado ao acaso, a voz trémula, as palavras presas a uma dor que insiste em não desaparecer. Não há drama grandioso, apenas a persistência íntima de um coração que não aceita morrer. A narrativa que se constrói é feita de fragmentos quotidianos, lençóis trocados, parceiros novos, números marcados por reflexo, e de uma verdade subterrânea: por mais que a vida avance, o amor não se apaga, instala-se num canto escondido e continua a vibrar. O refrão repete como uma ética simples: “faut juste continuer d’aimer, différemment.” Não é o fim, é transformação.

Excesso como Estilo

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Comecei Ofuscante: A Asa Esquerda  (1996) com assombro. O primeiro capítulo foi uma revelação rara: senti que estava diante de uma escrita capaz de perfurar a realidade até ao núcleo. Bucareste, visto da janela de um quarto de adolescente, tornou-se corpo vivo; a cidade respirava como organismo, as luzes noturnas vibravam como vísceras, e a memória aparecia não como nostalgia, mas como ferida aberta. Foi, talvez, um dos inícios mais poderosos que já li, proustiano no mergulho, mas mais visceral, mais urbano, mais sujo e luminoso.

Casa na Duna (1943)

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Carlos de Oliveira publica Casa na Duna em 1943, dez anos antes de escrever Uma Abelha na Chuva . E percebe-se logo a diferença: este é um livro breve, ainda marcado por hesitações de tom, mas já com lampejos da voz maior que viria a surgir depois.

Mon vrai nom est Élisabeth (2025)

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O livro de Adèle Yon foi recebido em França com entusiasmo: premiado, celebrado, apresentado como obra de investigação íntima e de restituição histórica. A promessa era forte — dar voz a uma antepassada silenciada pela psiquiatria francesa do século XX. Baseado em arquivos familiares e defendido como tese de doutoramento, Mon vrai nom est Élisabeth chega ao leitor como documento e como literatura.

Crossing (2024)

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Realismo total. Duro. Melancólico. Perfurante. Humano. Saí do filme com aquela sensação rara de ter atravessado um mundo que não se exibe, mas se oferece, como se tivesse sido convidado a caminhar, em silêncio, ao lado das personagens.

Kokoro, o silêncio, a moral e a culpa

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Comecei a leitura de Kokoro  , de Natsume Sōseki, com expectativa contida: sabia da reputação crítica, da reverência que a obra carrega na literatura japonesa moderna. O que não sabia, e talvez ninguém nos avise antes, é que se trata de um livro feito de adiamentos, de silêncios morais, de uma culpa que fermenta devagar até implodir.

Mala letra, livro de contos

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"Mala letra"  (2016), de Sara Mesa (1976), é um livro que entra sem pedir licença e deixa marcas. Onze contos curtos, secos e diretos, mas carregados de zonas de sombra, e é nessas zonas que a autora se move com mais liberdade.

La madre de Frankenstein (2020)

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Vim para La madre de Frankenstein atraído pela promessa de um romance histórico sólido, centrado na figura de Aurora Rodríguez Carballeira, uma mulher real cuja vida e crime têm peso trágico. Conhecia o seu caso e via nele potencial para um mergulho na psiquiatria do século XX, no contexto do franquismo, e numa reflexão séria sobre a loucura feminina e as estruturas de poder que a oprimiram. Esperava densidade histórica, complexidade psicológica e coragem narrativa.

"Ainda Estou Aqui", por detrás do vidro

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Vi ontem Ainda Estou Aqui e saí do filme com duas certezas: Walter Salles continua a ser um mestre a contar histórias e, ao mesmo tempo, há um vidro quase transparente que nunca me deixou entrar completamente naquela vida. Comecemos pelo que o filme tem de mais forte. A fotografia e a direção de arte são magníficas, cada plano tem a densidade certa, cada cor parece escolhida para permanecer depois na memória. A cinematografia e a montagem são de uma precisão impressionante: nada sobra, nada falta, o ritmo é sereno mas firme. As interpretações estão à altura. Fernanda Torres constrói um arco dramático completo, sem atalhos nem exageros, e todo o elenco secundário mantém a mesma contenção. A música, assinada por Warren Ellis, é tão contida quanto o resto do filme, discreta, mas presente nos momentos exatos, a sustentar a emoção sem jamais a manipular. Mas o que mais me prendeu foi o guião. Salles entende a força de não mostrar. Não há lágrimas fáceis, não há cenas explicativas em ...

Late Shift (2025) – A humanidade que resiste no silêncio

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Há filmes que nos atravessam sem pedir licença, e Late Shift , da realizadora suíça Petra Biondina Volpe, é um desses raros gestos de contenção absoluta que, precisamente por isso, nos trespassam. Vi-o sem saber ao certo o que esperar, e saí em silêncio, o corpo ainda a tremer, como se tivesse vivido um turno inteiro naquele hospital exausto. Tudo se passa num só cenário: um hospital público, corredores despidos de música, quartos de tensão, máquinas a apitar, pessoas a falhar e a resistir. O filme não precisa de mais. A câmara acompanha Floria (interpretada por uma Leonie Benesch absolutamente desarmante) durante o seu turno da noite. Nada de novo, dir-se-ia. Mas esse é precisamente o ponto: o que aqui se filma é o excesso do que já está a acontecer. Não há espaço para ornamentação, já basta o real. Leonie Benesch, que muitos conhecerão do soberbo The Teachers' Lounge , volta aqui a provar que há atrizes que não representam: habitam . Floria não é um papel, é uma presença. O mod...

Contos em Três Movimentos

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Não costumo chorar. Mas ontem, enquanto via a terceira história de " Wheel of Fortune and Fantasy" , de Ryūsuke Hamaguchi, senti algo a abrir-se. Não chorei, mas estive perto. E percebi: o que me impede não é a ausência de emoção, é o lugar onde ela se instala. A literatura, a que leio, a que admiro, raramente me faz chorar. Talvez porque me puxa para o pensamento, para o desdobramento do gesto, para a arquitetura das intenções. No cinema, porém, quando tudo se alinha, a voz, o olhar, o tempo suspenso entre duas personagens que fingem e, no fingimento, se reconhecem, acontece outra coisa. A emoção pede presença. O filme de Ryūsuke Hamaguchi não tem música que empurra, nem efeitos que sacodem. Tem apenas três histórias. Três encontros. Três variações sobre o que nos prende e nos escapa. E talvez seja isso que o torna tão devastador: não há heroísmo, nem redenção, apenas o espanto íntimo de nos vermos ali, no centro de uma palavra mal dita, de um silêncio demasiado longo, de um...

A Lucidez que Nos Quebra

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Não há forma de suavizar o que se segue. Yiyun Li é professora em Princeton e perdeu os dois filhos por suicídio (2018, 2024). E também não há como suavizar este livro. Things in Nature Merely Grow  (2025) é, antes de mais, um livro sobre a perda. Não a perda sentimental, aqui não há espaço para redenção. É a perda como dissolução da narrativa, como gesto radical de permanência no abismo. Yiyun Li não escreve para consolar, nem para explicar. Escreve para permanecer lúcida onde a maioria de nós se desfaria. Li apresenta um livro de análise profunda sobre o que quer dizer estar vivo, sobre o que quer dizer o suicídio, sobre a aceitação da vida tal como ela nos é entregue — sem adornos, sem promessas, sem sentido imposto. Aceitei esse pacto. Entrei no livro sabendo ao que ia, ou julgando saber. Disse a mim mesmo que acompanharia aquela lucidez até ao fim, mesmo sabendo que não seria confortável. Mas à medida que o livro avançava, sobretudo na segunda parte, quando Yiyun Li se detém ...

O Outro que Desejamos Ser

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Nunca desejámos tanto deixar de ser quem somos. Nunca nos olhámos tanto ao espelho com a sensação de que nos faltava algo, de ter feito outras escolhas. Não sendo propriamente o desejo de felicidade que nos move, mas apenas o simples impulso de não continuar como estamos . A frase que abre o romance (ver abaixo) de David Foenkinos sintetiza algo mais vasto do que o drama privado de um casal: exprime o mal-estar de uma era que deixou de confiar na estabilidade dos vínculos, sejam eles afetivos, profissionais ou identitários. Já não vivemos em função de ideais duradouros, mas de pequenas tentativas de reconfiguração — como se a vida fosse um protótipo contínuo que vamos abandonando a cada falência emocional. “ Nunca antes uma época foi tão marcada pelo desejo de mudar de vida. ” Esse desejo de mudar — de casa, de cidade, de profissão, de corpo, de parceiro, de narrativa — não é sintoma de fragilidade. É um sinal desta época. Um modo de estar onde a separação é menos um evento e mais uma ...

O corpo que Homero não escreveu

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Hoje escrevi sobre Aquiles. Ontem, sobre Penélope, no Letterboxd . E percebi que não fazia sentido deixá-la fora deste espaço. Se há algo que Achilles  (2025) , dos Divine Comedy, e Return  (2024), de Uberto Pasolini, me revelaram nestes dois dias, foi isto: quanto mais o tempo passa, mais me apego à Ilíada e à Odisseia . Não pela fidelidade ao mito, mas porque neles encontro as origens do que ainda tentamos ser, e o contorno daquilo que só muito recentemente começámos a escrever. Return tenta o impossível: dar densidade psicológica e emocional a personagens que nunca foram concebidas para a ter. Juliette Binoche, como Penélope, traz à pele o peso do tempo e do silêncio. Ralph Fiennes, como Ulisses, regressa não como herói, mas como homem esvaziado pela guerra. O filme quer redimir o reencontro com uma complexidade humana que o mito nunca previu — e ao tentar, expõe aquilo que está ausente no coração da epopeia. A Odisseia é uma maravilha de estrutura, ritmo e tensão narr...

Achilles, ou a elegância da morte anunciada

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Nunca escrevi sobre canções neste espaço. Sempre associei o formato à fruição íntima e passageira, algo que se sente mas raramente se detém para ser desmontado. Mas de vez em quando surge uma exceção, uma canção que se impõe como texto, como narrativa plena, onde o tempo se dobra e os versos nos falam como personagens. Achilles (2025) , dos Divine Comedy , é uma dessas raras canções. Escrita e cantada por Neil Hannon, Achilles começa como uma elegia antiga. Um guerreiro contempla a morte de um amigo e promete vingança. Estamos em plena Ilíada , entre barcos queimados e deuses distraídos. Aquiles, Pátroclo, a cólera transformada em destino. A canção invoca esse universo mítico com sobriedade, sem grandiloquência, apenas sugerindo o peso trágico com versos contidos: “You slew my sweetest friend / His death will be avenged” . A música não se exalta — a orquestração embala. Como se dissesse: conhecemos este lamento há milhares de anos. O que surpreende é o salto seguinte. A segunda estro...

Tolstoy e o Desejo

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Vivemos num tempo em que o desejo, tornado visível, continua a provocar desconforto e julgamento. Não é um fenómeno novo. Desde sempre que os corpos, os rituais sociais e os jogos de sedução ocuparam o centro da atenção moral e da vigilância do olhar. A crítica à exibição feminina e ao erotismo público é antiga, e talvez nenhum texto a exponha com tanta crueza como " A Sonata a Kreutzer " (1889), de Lev Tolstói. "The Kreutzer Sonata" (1891) de René-Xavier Prinet Escrito no final do século XIX, este pequeno romance revela a forma como o desejo masculino se mistura com o ciúme, a violência e a crítica moral à liberdade das mulheres. Tolstoy não fala de redes sociais, mas fala de bailes. Não comenta o digital, mas descreve as missas dominicais onde as mulheres são exibidas como flores frescas e os homens circulam em busca de escolha. O que encontramos ali, nas palavras do narrador, tantas vezes odiosas, mas também lúcidas, é um retrato fiel das mesmas forças que conti...

A Cassandra da Casa Fechada

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Não saí bem deste filme. Fiquei chateado. Transtornado. Quase irritado. Não porque falhe, pelo contrário, talvez tenha sido demasiado eficaz. O que me perturbou foi a ausência de alento, de rutura, de qualquer abertura. O que me doeu foi ver Leila, que tinha tudo — energia, visão, lucidez — terminar soterrada num mundo que não a merecia. Fiquei magoado porque o filme não lhe deu o espaço de florir, de transformar, de desbravar o seu caminho. Sou um amante das histórias que mostram como se sai, como se cresce, como se transforma. E aqui, tudo ficou igual. Tudo permanece fechado. " Leila's Brothers " (2022), Saeed Roustayi Leila podia ter sido como Tara Westover , como tantas mulheres que desafiam a gravidade das suas origens e rompem com os códigos herdados. Mas não. Aqui, o que a impede não é um sistema político, nem uma ideologia fechada, é uma teia de afetos mal resolvidos, um emaranhado de culpas e dívidas emocionais, onde a incompetência masculina, não religiosa, não ...

Sentir antes de dizer

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O livro " Sentience: The Invention of Consciousness " (2022) de Nicholas Humphrey propõe uma explicação funcional da consciência que a aproxima de uma estratégia evolutiva de sobrevivência. A sua tese central distingue entre dois tipos de consciência — a cognitiva e a fenomenológica —, sendo esta última a que dá cor e textura à experiência de estar vivo. Humphrey descreve a consciência não como uma janela para o mundo, mas como um palco interno onde o organismo sente o impacto de estar no mundo. Viver, para Humphrey, é assum mais do que existir, é sentir.  Este ponto de partida, que aproxima a consciência da emoção, sugere uma base comum com autores como António Damásio (1994), para quem a consciência emerge do corpo e das emoções que regulam a sua homeostasia. No entanto, à medida que o livro avança, Humphrey hesita em assumir essa ligação plena. Quando se aproxima da animalidade ou do corpo como sede do sentir, recua para explicações adaptativas, evitando nomear a emoção....